Oiiiii!!
Aqueles que
leram a resenha de “A Ilha dos Dissidentes” postada essa semana, já sabiam
desta entrevista e como a Revista já foi divulgada online, posso repostar aqui
para vocês *-*. A resenha de “A ameaça invisível” ficou programada para semana
que vem.
As perguntas
feitas pela Denise Flaibam para a Bárbara foram destacadas em vermelho.
Entrevista com Bárbara Morais
Fale sobre você, seu dia-a-dia,
sua convivência familiar... O que desejar nos contar.
Tenho essa suspeita de que sou
hiperativa, embora nunca tenha sido diagnosticada. Mas é aquele tipo de
hiperatividade mental: estou fazendo conexões o tempo inteiro e tenho várias
ideias para histórias por dia. Todas vão para o meu caderninho de ideias quase
imediatamente para serem trabalhadas quando for a hora. O mais engraçado é que
isso só acontece quando estou com uma rotina louca como a que tenho hoje,
emendando estágio e faculdade e escrever e mil e um projetos paralelos. Em
resumo: sou workaholic.
Como descobriu que tinha talento
para contar histórias?
Eu adorava inventar histórias com
as minhas Barbies que eram quase epopéias mexicanas com figurinos impecáveis
(eu gastava horrores em roupas de boneca numa feira que tinha aqui perto, era
maravilhoso) e sempre tive explicações estranhas mas bastante convincentes para
os acontecimentos do mundo. Sabe, eu sempre gostei disso de preencher lacunas e
inventar minha própria história, mas acho que nunca teve um momento de parar e
pensar “nossa, eu tenho talento para isso”. Contar histórias é que nem
respirar: acontece naturalmente. E não acho que tenha muito talento envolvido,
porque todo mundo conta história. A diferença é se você decide fazer isso
profissionalmente ou não.
E o gosto por distopias, como surgiu?
Sempre tive uma predileção por
literatura fantástica e gosto muito dessa brincadeira das possibilidades.
Quando eu li Admirável Mundo Novo no Ensino Médio, descobri que gostava muito
desse tipo de literatura que brincava com as estruturas do nosso mundo ao mesmo
tempo em que levantava questionamentos e fazia duras críticas à nossa vivência.
Alguns anos depois, li 1984 e o livro se tornou um dos meus favoritos, me
levando a ler cada vez mais livros distópicos. Na parte juvenil, Jogos Vorazes
certamente foi um marco porque a trilogia é maravilhosa e amo a Katniss e o
Peeta e a Suzanne Collins foi muito inteligente nas críticas dela.
Quando decidiu ser escritora? Sua
família te apoiou e apoia?
Eu sempre escrevi, mas nunca
pensei em levar isso a sério até a minha agente literária me encontrar nos
confins da internet e dizer que eu tinha potencial. Mesmo assim, só contei para
a minha família quando o contrato estava assinado e todo mundo ficou super
orgulhoso. Eles me apoiam bastante, tanto meus pais e minha irmã, como o resto
da minha família. Com frequência eles ligam para saber como estou e como estão
meus livros, então sou muito sortuda quanto ao suporte que recebo. Nos períodos
em que estou perto de deadline, trabalhando loucamente, meus pais tem um cuidado
redobrado em me lembrar de comer, parar para descansar e beber água, porque eu
costumo esquecer disso, ahaha.
Nos conte um pouco como foi seu
processo de encontrar uma editora para publicar seus livros.
Começou quando a minha agente
literária me contactou, pediu para ler algo meu e achou interessante e com
potencial para ser publicado. A partir daí, trabalhamos no texto por mais ou
menos oito meses para ele ficar pronto para ser enviado às editoras e ela
cuidou de todo esse trâmite. Felizmente, logo a Gutenberg gostou da história e
aceitou publicá-la!
Você tem algum sonho ainda não
realizado? Nos fale sobre ele, se puder.
Eu não sou uma pessoa de ter
sonhos, eu tenho metas. Eu sou pragmática demais e acho que falar em sonho
implica que ele não é realizável e, atualmente, há um imenso espectro de coisas
impossíveis e nenhuma delas está na minha lista de metas, ahaha. Eu considero o
esquema de metas muito bom, porque é como um degrau. Minha meta agora é
terminar minha faculdade e tentar começar a escrever dois livros por ano.
Depois que conseguir isso, minha meta é tentar fazer uma história em quadrinho.
Acredita que agenciamento
literário funciona no Brasil?
Sim e tenho a melhor experiência
possível com a minha agente literária. Inclusive estou respondendo essa
entrevista depois de uma reunião com ela, em que conversamos sobre a visita
dela à editora nessa semana e repassamos todos os últimos acontecimentos. Além
de ser mais um passo à frente na profissionalização do mercado de literário, os
agentes, quando trabalham direito, tiram uma carga de preocupações das costas
do autor por serem os intermediários entre ele e a editora. Além da leitura do
contrato, apontando correções e adições para proteger o autor, ele também é
responsável por garantir que os livros estejam nas livrarias, por batalhar por
mais eventos para o autor, dentre outras coisas.
Como você vê a literatura
nacional hoje? Acredita que, apesar da crise no Brasil, continuaremos a crescer
e ser valorizados como escritores?
Eu acredito que estamos no início
de um período muito bom para os autores nacionais, por dois motivos
intrinsecamente correlacionados. O primeiro é o público, que cada vez mais
demanda autores nacionais de “entretenimento” e que, aos poucos, está
desconstruindo o preconceito e a ideia de que autor brasileiro = livro ruim.
Com isso, as editoras estão procurando novos autores e apostando ferrenhamente
neles, porque há uma demanda do público e uma falta de oferta diversa. Eu
acredito que essa valorização tende a ser consolidada nos próximos anos e
espero que passemos a ter uma fatia considerável do mercado para jovens adultos (que é o meu) composta por
autores nacionais. Outro fator que impulsiona a literatura nacional hoje é a
facilidade em se lançar um livro independente, via Amazon. Temos vários casos
de sucesso de autores que se lançaram por lá, como a FML Pepper ou a Nana
Pauvolih, e depois conseguiram um contrato de publicação tradicional.
Aqui preciso fazer um parênteses porque embora haja essa procura das editoras, ainda há muito amadorismo por parte dos autores. É fundamental para um autor iniciante conhecer mais sobre o mercado e existem vários meios de fazer isso, seja com um curso, seja com as milhões de postagens explicando o seu funcionamento. É necessário saber os tipos de publicação possível, entender seu público, compreender onde seu livro está inserido num contexto mais abrangente. Se você opta por publicação tradicional, pode ter certeza de que é um processo demorado e emocionalmente exaustivo. Além disso, por mais que o mercado esteja favorável, os leitores raramente vem até você só porque você lançou um livro. É importante entender que o autor tem participação fundamental na divulgação dos livros -- e até a Talita Rebouças ficava todos os dias na Bienal vendendo livro no início.
Aqui preciso fazer um parênteses porque embora haja essa procura das editoras, ainda há muito amadorismo por parte dos autores. É fundamental para um autor iniciante conhecer mais sobre o mercado e existem vários meios de fazer isso, seja com um curso, seja com as milhões de postagens explicando o seu funcionamento. É necessário saber os tipos de publicação possível, entender seu público, compreender onde seu livro está inserido num contexto mais abrangente. Se você opta por publicação tradicional, pode ter certeza de que é um processo demorado e emocionalmente exaustivo. Além disso, por mais que o mercado esteja favorável, os leitores raramente vem até você só porque você lançou um livro. É importante entender que o autor tem participação fundamental na divulgação dos livros -- e até a Talita Rebouças ficava todos os dias na Bienal vendendo livro no início.
Agora falando um pouco sobre sua
obra publicada: Como surgiu a ideia para A ilha dos dissidentes? Conte-nos um
pouquinho.
Isso é bem engraçado, porque
recentemente tive uma ideia exatamente da mesma forma que a ideia de AIDD
surgiu: no meio de uma aula. No caso dessa ideia atual, surgiu em uma aula de
economia brasileira em que eu parei e pensei “Nossa, quero escrever um livro
com hiperinflação”. No caso de A Ilha dos Dissidentes, foi durante uma aula de
Introdução a Ciências Políticas em que estávamos vendo definições do Estado e
eu comecei a refletir sobre as segregações institucionalizadas, como o
apartheid, e guerras civis e como, em vários desses casos, não foi uma força
externa que questionou a soberania deles, e sim um movimento interno por
mudanças. Eu queria escrever algo para explorar esse assunto e aí a ideia foi
surgindo, com isso como fio condutor: um mundo em que pessoas extraordinárias
são consideradas aberrações, uma protagonista que se descobre como uma delas
bem no meio de um momento de ruptura e precisa lidar com as implicações da sua
nova identidade e do seu lugar no mundo, que está sempre em mudança.
Nós vimos o crescimento
de Sybil da garota "assustada" do primeiro livro, para a moça
determinada em A Ameaça Invisível. Sou apaixonada por desenvolvimento de
personagens e você faz isso com muita maestria, é notável na sua escrita.
Gostaríamos de saber o que o terceiro livro reserva para a Sybil, PRINCIPALMENTE
POR CAUSA DAQUELE FINAL! E prepare-se para mais “surtos” nas demais perguntas!
Eu também amo muito
desenvolvimento de personagens e penso muito nessas questões na hora de criar
minhas histórias. Não faz sentido você levar seu personagem de uma situação A
para uma B sem que haja crescimento no meio do caminho. Anômalos é,
fundamentalmente, uma história de crescimento em um ambiente adverso, em que
todo mundo é traíra e você não sabe em quem confiar e a Sybil aprende isso da
pior maneira possível nos dois primeiros livros. No terceiro, é o fim dessa
jornada de garota-que-confia-no-governo e, bem… digamos que ela ficou bem mais
esperta, principalmente no que concerne Fenrir.
Me fale sobre o meu
ship, quando zarpa? Brincadeira. Queremos mesmo saber sobre a relação Sybil x
Andrei. Pelo andar da carruagem deles, o terceiro volume vai reservar muitas
emoções? Shippers gonna ship harder?
Bem… são spoilers. Mas eu posso
adiantar que, em retrospecto, foi bem divertido escrever os dois porque antes
de qualquer coisa, eles se tratam como iguais e se complementam em suas forças
e fraquezas. Um dos incômodos que geralmente tenho em casais de livros é que o
mocinho sempre tem, de alguma forma, mais poder que a mocinha e em alguns
casos, ela não se equipara ao seu patamar. Eu quis fazer diferente: quis
fazê-los iguais.
Me apaixonei pelo
Hassam, e agora? A participação dele no livro 3 será maior?
MY SUN AND STARS. (Nota da Mari: também me apaixonei pelo Hassam!!)
Sim,
o Hassam terá mais participação no terceiro livro. *poker face*
O final do segundo
livro deixou uma brecha para uma treta maligna. Queremos saber o que esperar do
volume final dessa trilogia! Quantos calmantes teremos que comprar?
Até agora, a gente nunca viu
realmente do que o Fenrir é capaz. Nós descobrimos da pior (melhor) forma
(inclusive dentre meus comentários para o Fenrir tem “BICHA, MAS A SENHORA É
DESTRUIDORA MESMO) (talvez eu goste muito do Fenrir).
Alguma alusão à nossa realidade
política caótica ou escreveu uma distopia sem pensar diretamente em política?
Quando comecei a escrever a
história, eu queria falar sobre segregação e preconceito de forma divertida e
um tanto fantasiosa, ao mesmo tempo em que buscava a resposta para o que você
pode fazer quando o governo em que você vive é abusivo. Não foi intencional,
mas eu sempre gostei de intriga política e de gente fazendo trairagem, então
acabou que o cenário do livro pendeu para esse lado. Algumas observações são
alfinetadas políticas claras para a nossa realidade, mas outras acontecem por
acidente, provavelmente porque eu internalizo os acontecimentos e os processo
na ficção.
Deixe um recado para seus
leitores.
EU AMO VOCÊS, XUXUZINHOS.
Quem mais
ficou loucamente ansioso para saber mais sobre Starships??? *-------------*
Agradecemos
à Barbara pela entrevista e desejamos muito sucesso e muitas alegrias em sua
vida!
Beijos
Entrevista original: Revista Brasil Literando
Não se esqueçam que está rolando a Semana Guardião durante todo o mês de agosto e participem do sorteio.
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