Capítulo Décimo - Amor e Música


Capítulo 10

                Despertaram com o som do celular de Lucca, ele esticou o braço e tirou do bolso da calça jeans, atendeu sem ver quem era, a voz rouca por ter acordado.
                ― Alô?
                Minha filha está com você? – perguntou a voz masculina.
                ― Seu Luiz?
                Quem mais? – disse irritado, Anelyse ao ouvir o nome do pai se levantou sobressaltada, mordendo o lábio com a dor que sentiu – Já é tarde moleque, quero minha filha em casa em cinco minutos.
                Ao olhar no relógio Lucca viu que era ainda onze e meia da manhã, olhou para Anelyse e arriscou mesmo sabendo que ela correria riscos.
                ― O senhor permitiu que saíssemos aos finais de semana, a entregarei as dez da noite como combinado. – desligou – Filho da Puta.
                ― O que ele queria?
                ― Mandou te levar, disse que era tarde. – se levantou e entrou no banheiro onde lavou o rosto, Anelyse ficou imóvel observando.
                ― Ele estava bravo? – mordeu o lábio temerosa.
                ― Estava. – se virou para ela e voltou lentamente para a cama, arrancando a camisa e pendurando na cadeira em frente a escrivaninha – Mas o acordo é as dez, vou te levar as dez. Ainda nem almoçamos... – se deitou.
                Anne se uniu a ele, afastou o lençol e deixou tocar os seios na pele dele, ambos pararam de respirar.
                ― Que acordo? – perguntou ela para focalizar no assunto.
                ― Não vou me lembrar agora... Anne... acho melhor você vestir minha camisa. – sussurrou. 
                ― Quero sentir você. – sussurrou inocente, não tinha experiência para entender como isso o afetava.
                Luc delicadamente a puxou pelas laterais do quadril e a colocou deitada sobre ele, totalmente. Pernas com pernas, quadris apertados, os abdomens se roçando e os seios dela espremidos sobre seu peito. Fechou os olhos degustando a sensação.
                ― Sentindo o suficiente? – murmurou ele, deslizou as mãos até o bumbum dela fazendo caricias mas sem apertar.
                ― Bem... bem suficiente. – fechou os olhos diante do rosto dele.
                ― Não faz assim não, ou vou te beijar e terminar de arrancar a sua roupa.
                Ela arregalou os olhos, pois não sabia o que tinha feito de errado.
                ― Mas não fiz nada!
                ― Você fechou os olhos e esta gostando do meu toque, da para ver no seu rosto. – riu baixinho pela inocência dela.
                ― Fechei porque ta gostoso... – corou.
                ― E eu sei. – mordeu o lábio inferior dela – Você já pensou em quando quer ter sua primeira vez?
                ― O que?? – o rosto da menina ficou vermelho e a respiração começou a falhar, ele riu baixo esperando que ela respondesse – Ah bem... sempre pensei que seria no dia do meu casamento.
                ― Casamento?
                ― Agora você que parece assustado. – ela riu – Realmente nunca pensei para valer sobre isso, nunca pensei que fosse beijar, quanto mais... hm. – ela deu de ombros timidamente.
                ― Não assustei, estou surpreso. – beijou a testa dela – Não sei se agüento esperar até o casamento.
                ― Você pretende se casar? – ela evitou acrescentar “comigo”, mas estava implícito na pergunta.
                ― Já disse que me sinto diferente com você, tudo é possível, Anne. Não nego que gostaria de passar muito mais tempo com você. Não sei quanto a casar, nunca quis me casar.
                ― E filhos?
                ― Nossa... filhos? – riu – Não, nunca pensei nisso. – mentiu, mas porque não queria iludi-la, tinha medo de não conseguir se comprometer tanto com alguém e ela era nova demais para compromissos tão sérios – Com fome?
                ― Ótima maneira de mudar de assunto. – ela se moveu devagar até encostar nos lábios dele, sentiu a musculatura dele endurecer e ele prender a respiração, em seguida algo crescendo entre suas pernas, sabia o que era, sabia porque ele tinha perguntado sobre a virgindade, suspirou o encarando, voltando a orbita – Estou com fome, mas não quero sair daqui.
                ― Nem eu... – soou baixo – Você está machucada, só por isso eu não faço nada Anne, mas acho que terei que te explicar algumas coisas.
                ― Que coisas? Como se faz bebês? – questionou, pois o tom dele demonstrava que a achava mais inocente do que ela julgava ser – Sei como se faz bebês, Luc, só nunca havia tido essas sensações... essa proximidade é tão... – fechou os olhos e deitou a cabeça no peito dele. Luc entendeu mesmo sem as palavras.
                ― Gostosa? – ela suspirou, então ele segurou no quadril dela e moveu bem lentamente contra o dele, Anne soltou o ar devagar que bateu no queixo do rapaz – Se quiser te mostro todas as sensações dessa proximidade.
                Ele estava ardendo de desejo, tinha até esquecido da raiva de minutos antes.
                ― Quero.
                ― É só pedir para parar se eu me empolgar. – avisou.
                ― Ahm...ram.
                Ela tinha os olhos fechados, o corpo totalmente rígido sobre o dele, sentindo-o bem no centro, encaixado entre suas pernas, aquilo às vezes se movia e ela tinha vontade de fazer algo sobre isso, porém não precisou, Luc segurou-a novamente, a empurrou um pouco para baixo e subiu de volta, a ereção pressionou no lugar certo o corpo dela, a fazendo estremecer  e umedecer.
                ― Caramba Anne... – sussurrou rouco. Imaginou ela sendo espancada para congelar o desejo por sentir o calor e a umidade dela passar para a calça dele. Respirava fundo, mas fez de novo e de novo e de novo, batendo a ereção nela, em seu centro, cada vez mais forte e um pouco mais rápido. A menina soltava sons baixos e tímidos, mas não fazia nada, deixou tudo para ele. Luc sentia o desejo crescendo e não entendia como tinha coragem para o que estava fazendo. O desejo de dar prazer a ela, de distraí-la daqueles machucados o havia dominado por completo. Em um dos movimentos sentiu as unhas dela cravando sua pele e gemeu ao mesmo tempo que ela. A garota amoleceu em seus braços – Caramba Anne... – soltou novamente, o corpo latejando, precisava gozar também, mas se conteve em lhe dar a primeira sensação de prazer, sentiu-se poderoso com isso, por fazê-la se saciar só com o pouco que fizera.
                ― Estou tremendo por dentro... – sussurrou temerosa e tremula também por fora.
                ― Eu sei, isso é desejo. – murmurou baixo, agora só acariciando o bumbum dela, bem lentamente – Quer mais?
                Questionou quando sentiu que procurava unir os quadris, fechou os olhos a ajudando a se encaixar e ficaram quietos assim.  
                ― Minha barriga dói também. – informou ao invés de pedir mais, estava ofegando um pouco e sonolenta. Queria mais, mas a timidez não a deixou pedir.
                Apesar de ter sido muito pouco o que fizera, Luc ficou espantado com o poder que teve sobre as reações dela.
                ― Relaxa o corpo, fecha os olhos e aperta a barriga na minha, vai aliviar.
                Ela obedeceu e com as mãos firmes na cintura dela, cuidando para não tocar onde haviam machucados, ele a prendeu, massageando o abdômen dela com a própria respiração, não demorou para que cochilasse em seus braços.
                Ao perceber que ela adormeceu Luc soltou um suspiro, não estava acostumado a ficar com meninas tão inocentes, se fosse outra já teriam transado, mas apesar da necessidade física, não tinha vontade de antecipar o tempo dela e tinha consciência que talvez demorasse. A cobriu lentamente com o lençol, pois a visão de suas costas o estava perturbando novamente.
                Por quanta coisa uma garota de dezesseis anos deveria passar?
                Ele enganchou os dedos nos cabelos dela e começou a move-los lentamente em uma carícia tímida para que não acordasse. Seus pensamentos concentrados no pai dela e na doença que os uniu naquela manhã que deu carona aos irmãos. Queria fazer algo para ajudá-la mas a única coisa que estava ao seu alcance era ajudá-la na banda, a ter um lugar de destaque entre eles. Sorriu ao se lembrar da apresentação perfeita. Anelyse tinha desenvoltura no palco e também o surpreendeu por não ficar com falta de ar.
                Deixou de pensar quando começou a ouvir a respiração dela que começava a se tornar ruidosa, asmática, um leve chiado ao fundo da garganta. Apertou carinhosamente o bumbum dela para ver se despertava, ficando preocupado que ela estivesse com falta de ar e não acordasse. O coração do menino batia agitado e temeroso.
                Quando despertou estavam do mesmo modo, mas ele tinha passado o lençol sobre as costas dela e brincava com seus cabelos e o bumbum, prestou atenção e percebeu que já não sentia a dorzinha chata na base da barriga e nem a ereção dele.
                ― Dormi muito tempo? – sussurrou constrangida.
                ― Não. – sorriu, inclinou o rosto e a beijou carinhosamente – Você se sente melhor? Quer sua bombinha?
                ― Na verdade sim, obrigada. – sorriu, a timidez se revelando agora que o corpo estava frio – A bombinha? – então percebeu a respiração pesada – Quero... mas está na minha bolsa e não lembro onde larguei. – riu baixinho.
                ― Vou buscar. Quer almoçar? – os dedos dele estavam no molde de sua bunda e ela não deixou de notar isso.
                ― Quero, estou morrendo de fome.
                Lucca a ajudou a se erguer, pegou a camisa da cadeira e vestiu nela, depois segurou a mão da menina. Andaram devagar até a sala onde ele imaginou estar a mochila e estava, caída no chão perto do sofá. Riu baixinho a recolhendo e entregando à garota.
                ― Acho que estávamos empolgados hoje cedo.
                ― Anram. – ficou corada e fingindo-se distraída enquanto procurava o remédio nos bolsos externos, quando encontrou virou de costas para ele e sugou o remédio da bombinha, o som de ar sendo puxado ecoou seco no ambiente. Ela fechou o frasco e o guardou de novo, em seguida colocou a mochila no sofá e se virou para ele.
                ― Tem vergonha de mim? – questionou com um sorriso divertido.
                ― De todo mundo... não gosto de usar a bombinha na frente das pessoas. – confessou.
                Ele a beijou rapidamente e a conduziu para a cozinha.
                ― Dormimos bastante hoje ein? – brincou com ela e ganhou uma risadinha.
                ― Demais, mas eu gostei. Queria dormir sempre com você.
                Ele abriu a geladeira e retirou duas lasanhas congeladas de lá, enfiando ambas num forninho elétrico, enquanto esquentava a virou de costas e ergueu a camisa, observando os machucados. Pareciam melhores mesmo, tocou alguns testando e ela reclamou, afastando-se dele.
                ― Isso tudo é desculpa para que olhe meu popô! – desconversou e sentou em uma das cadeiras em volta da mesa, sentindo uma fisgada por causa dos machucados.
                ― Seu popô – imitou – é lindo e deve ser admirado. – sorriu e piscou para ela – Você não quer se casar comigo não?
                ― Claro que quero. – ela nem pensou para responder e isso pegou Luc totalmente desprevenido, virou-se para o forninho, agitado.
                ― Estou falando sério.
                ― E acha que eu não? – ergueu o rosto encarando as costas dele.
                ― Queria te tirar daquela casa. Não quero que volte para lá hoje... – confessou num tom muito baixo.
                ― Você quer se casar só para que eu não seja mais espancada?
                ― Porque eu te amo e porque não quero que seja espancada.
                O forninho apitou quando ela ia responder uma grosseria, esperou ele retirar as lasanhas e se sentasse para voltar ao assunto.
                ― Não quero que tome nenhuma atitude só para me proteger, eu vou dar um jeito nisso, já consegui que ele mudasse uma vez, ele vai mudar de novo. – começaram a comer e o silencio perdurou por um tempo enquanto ele ponderava as palavras dela.
                ― Algumas vezes você parece tão adulta e em outras é tão inocente.
                Ela ergueu os olhos do prato.
                ― Isso é ruim?
                ― De modo algum. Espero que continue me procurando quando precisar.
                ― Idem. – sussurrou ela mastigando.
                ― Quer sair um pouco? Podemos ir ao parque ou ao estúdio...
                ― Está entediado? – riu divertida.
                ― Com você não tem como ficar entediado. Na verdade queria te dar um dia legal.
                ― Meu dia já está muito legal.
                Sorriram um para o outro. Lucca continuava preocupado, mas não demonstrou. Ao terminarem o almoço retirou as bandejas jogando no lixo e lavou os garfos. Como não tinha nenhum suco na casa, não ofereceu nada para ela beber.
                ― O que quer fazer então?
                ― O que namorados fazem?
                ― Transam. – respondeu sem pensar, pois era brincalhão. A expressão de choque de Anelyse o fez argumentar rapidamente – Era brincadeira... desculpe. – a abraçou timidamente quando se colocaram em pés – Assistem filmes, vão ao cinema, almoçam fora, passeiam pela cidade... temos inúmeras opções.
                ― Eu quero fazer isso um dia, mas ainda não. – sussurrou para ele falando sobre a primeira resposta – E se fizer antes dos dezoito acho que não sobrevivo se entrar em casa. – ele concordou timidamente – Queria ficar quietinha mesmo, ainda não me sinto totalmente bem para sair e ver pessoas. Essa bolha aqui ta excelente...
                ― Bolha? – sorriu.
                ― Anram, nós dois sozinhos afastados do mundo, na nossa bolha. – ela não sabia explicar o pensamento, mas Lucca entendeu, também se sentia assim, que precisava apenas dela e mais nada, ignorar o mundo era uma excelente opção.
                ― Perfeito. Vamos assistir a um filme. Aposto que você gosta de romance senhorita Fantini.
                ― Acertou senhor Dalostto. – ela arrastou o sobrenome num italiano bem pronunciado. Ele sorriu aprovando.
                ― Silva Dalostto. – informou e ambos caíram na gargalhada – Herdei o sobrenome da minha mãe também, apesar dela não usá-lo mais depois que se casou com papai.
                ― Silva... nunca imaginaria.
                ― Nem tudo é perfeito. – riram de novo.
               
                Luiz estava impossível e nem mesmo Jucélia conseguia controlá-lo. Andava de um lado ao outro da casa, bufando, falando sozinho, às vezes martelando alguma coisa com o punho; Giovanni não agüentou ficar e foi passear com Letícia.
                Jucélia estava na cozinha quando ele entrou agitado, socando a mesa e se sentou colocando as duas mãos na cabeça, exasperado.
                ― Esse garoto merece uma lição, onde já se viu me tratar desta forma? – murmurava baixo, ainda contrariado com a ligação – A Anelyse não o verá nunca mais! Mulher, escreve o que eu to te dizendo! Nunca mais. – levantou socando a mesa, mas antes que saísse ela se antecipou.
                ― Qual é o problema dela ter um namorado? Ontem você aprovou o namoro deles. Você precisa de tratamento Luiz.
                ― Você sempre romântica. – resmungou – Ela não tem idade para namorar e eu aprovei só porque você pediu, não porque eu queria. Você viu como ela falou comigo? Na frente dele! Já começou com falta de respeito então é melhor cortar pela raiz.
                ― Ela está magoada com você! E acredito que mais ainda depois de ontem. Não admito que a toque de novo, nunca mais. – apontou a colher de pau no rosto do marido, atrevida – Me entendeu?
                ― Ou o que? – ele torceu o pulso dela, encarando-a de frente. Havia se levantado da cadeira bruscamente.
                ― Me divorcio de você. – puxou a mão com força até ele soltar.
                Luiz saiu da cozinha direto para a rua e Jucélia se viu sozinha, aproveitou para chorar tudo o que vinha guardando por anos. Os filhos achavam que ele tinha melhorado, que não se exaltava mais, mas eles não passavam o dia em casa para ver as vezes que apanhou dele. Não sabia mais como ajudá-lo, a bebida nunca fora o problema só o deixava descontrolado na frente dos filhos. Um psicólogo amigo dela desconfiava que ele tinha problema de múltiplas personalidades, mas o homem nunca aceitou fazer o tratamento, alegando que não era retardado mental.
                Na rua Luiz parecia possesso.
                ― Divorcio? – ria descontrolado, as pessoas passavam por ele olhando torto, achando graça do maluco falando sozinho. Luiz gesticulava como se conversasse realmente com alguém – Ouviu? Di-vor-cio! Se ela acha que vou deixá-la livre para ser traçada por outro homem, está muito enganada... – ele riu – Isso! Antes que me deixe eu a mato. Ótimo. Final perfeito. O viúvo sarado. Posso até arrumar outra mulher que saiba o significado para palavra submissão.
                ― Maluco. – um homem murmurou ao passar por ele, trajava-se elegantemente, careca e com um óculos fino pendurado na ponta do nariz, Luiz apenas se virou e o socou na boca do estomago. O estranho se curvou e ele voltou a andar normalmente, voltando a conversar consigo mesmo.
                ― Vai ser fácil. A escada será o lugar perfeito para meu plano. – argumentou.
                Era fácil de entender o que estava acontecendo, Luiz não sabia lidar com os problemas diários, a falta de dinheiro, uma filha doente que agora queria namorar e nem com a esposa que de uma hora para a outra decidiu deixar de submeter-se. Era um homem de raízes antiquadas, que aprendera que o homem deve comandar o lar e os demais se dobrarem, aceitando qualquer ordem. Voltara a beber escondido, porém não a ponto de embriagar-se, apenas para aliviar os males da vida.
                Andou a esmo por algumas horas e ao retornar, sentou-se num bar pedindo uma caipirinha. A primeira levou a outra e em poucos minutos havia se esquecido porque estava aborrecido, cantava com outros bêbados para passar o tempo.

                Eram quase nove da noite quando Lucca decidiu levar Anelyse para casa, haviam assistido a um filme e conversado muito sobre música e o relacionamento deles. Ele pensava no amor que tinha por ela, mas ponderava se seria forte o suficiente para enfrentar o pai da garota todas as vezes que tivesse de buscá-la ou levá-la para lá.
                ― Quer ajuda para vestir sua roupa? – perguntou vendo que ela tinha dificuldades para se mover ainda.
                ― Acho que você já me viu nua muitas vezes por hoje.
                ― Seminua. E eu estava cuidando de você. – argumentou com um sorriso malicioso.
                ― Luc... – repreendeu-o, mas sorria também. Entrou no quarto recolhendo o jeans e o vestindo rapidamente, tímida por ele continuar olhando – Me ajuda então. – riu baixinho ao tirar a camisa dele e entregá-la ao rapaz.
                ― Você é tão linda, Anne.
                ― Sou gorda. – retrucou e assim vestiu sua blusa por cima, escondendo os seios e a barriga que estavam expostos.
                ― Você pode se achar gorda, mas continua sendo linda.
                Anelyse sorriu e se sentou na cama para vestir os sapatos, porém Luc se adiantou, ajoelhou à frente dela, demorando um pouco ao analisar-lhe os pés. Tinha uma fissura por pés e os dela eram perfeitos, mesmo com as unhas naturais, sem nenhum esmalte. Os dedos curtinhos, as unhas cortadas bem rente, pequeno e com a pele bem lisa e macia. Anne suspirou sentindo a carícia que ele fez na sola e ele a encarou rapidamente, terminando de calçá-la.
                ― Obrigada. – mordia o canto do lábio e o via como o príncipe da Cinderela, ali a seus pés.
                ― Você tem pés lindos também, Anne. Qualquer dia vou massageá-los. – comentou se levantando.
                ― Ah, obrigada. – riu – Acho que meus pés e minhas mãos são os locais do meu corpo que eu mais gosto.
                Ele pegou a mão dela e examinou, em seguida beijou ambas carinhosamente.
                ― Gosto de tudo em você, mas suas mãos e seus pés são realmente lindos. – sorriu – Temos que ir, não quero confusão.
                ― Ah... não queria ir. – murmurou perdendo o encanto daquele momento, lembrar de casa lhe remetia ao que a esperava. Tinha quase certeza que o pai a espancaria novamente.
                ― Também não queria que fosse... me promete algo?
                Ele ergueu a cabeça dela, tocando-lhe carinhosamente o queixo.
                ― Prometo.
                ― Se ele te ameaçar ou bater, me liga?
                ― Não tenho como...
                ― Pode ser a cobrar... melhor, vou colocar credito para você, assim tenho o prazer de receber suas mensagens de texto. – sorriu para ela.
                ― Não precisa colocar os créditos, eu dou um jeito de avisar você. Mas não quero que faça nada, ta?
                Ele tinha decidido colocar crédito para ela, mas não lhe disse mais nada sobre isso, estava irritado com o pedido seguinte.
                ― Vou denunciá-lo se ele encostar em você de novo. – Anne abriu os lábios para retrucar e ele a calou com um beijo que se tornou longo para acalmá-la, em seguida sussurrou – Um dia na cadeia pode mudar um homem, meu amor.
                Anne negou lentamente, fez um carinho no rosto de Lucca deixando os lábios roçar os dele.
                ― Luc, ele é meu pai e por mais que tenha surtos como os de ontem, não quero ele preso, nem por um dia. Não faça nada. – seu tom encerrou a discussão e apesar de ser carinhosa ao dizer, ele sabia que não poderia fazer nada sem que ela permitisse.
                ― Tudo bem... mas se isso se tornar constante, vamos discutir de novo.
                ― Combinado.
                Ambos esperavam não passar por isso novamente. Ele a conduziu para o carro depois de terminarem de se arrumar, entregou a ela o creme que havia usado mais cedo, pois estava misturado com o remédio para a dor. Dirigiu silencioso, com ela apoiando a cabeça no ombro do rapaz. Nenhum deles queria voltar à realidade.      



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