Amor e Música - Capítulo Nono




Capítulo 9

                A hora da apresentação estava próxima e apesar dos últimos acontecimentos, Anelyse sentia-se segura para cantar, a adrenalina por ter enfrentado o pai correndo por suas veias. Lucca estava tocando divinamente esta noite, parecia embebido em felicidade, rodopiava com o instrumento no tronco, dedilhando as notas magistralmente enquanto todos, incluindo ela, o admiravam perplexos.
                Ao fim do rock Aline deixou o som sumir no ambiente para anunciar as apresentações, com um floreio digno de Shakeaspeare ela apontou para Anelyse que estava ao lado do palco.
                ― Apresento a vocês um achado, Anelyse Fantini.
                O salão explodiu num côro frenético de palmas e assobios a deixando momentaneamente afogueada, discretamente usou o remédio, guardou-o no bolso e subiu ao palco, agarrando o microfone com as duas mãos para parar de tremer.
                ― Obrigada. – sussurrou para Aline que se afastou tomando lugar no backing vocal – Boa noite, hoje iremos apresentar uma das minhas músicas prediletas – direcionou-se ao publico – Oceano de Djavan.
                O som do piano preencheu o ambiente, Anelyse virou-se para encarar o tecladista da banda sentado ao piano, era esguio, tinha um sorriso torto marcante e olhos incrivelmente azuis apesar dos cabelos escuros e a pele morena, seu nome era Fabianno, Fabianno Reis. Ele lhe lançou um sorriso ao fim da introdução, corajosa Anelyse se voltou para os presentes iniciando com a voz macia e arrastada.

Assim
Que o dia amanheceu
Lá no mar alto da paixão,
Dava prá ver o tempo ruir
Cadê você?
Que solidão!
Esquecera de mim?
                De repente a letra pareceu em branco, engasgou na segunda estrofe e foi salva por Aline que floreou a primeira palavra, clareando a memória de Anelyse. Ela acompanhou o floreio como se fosse ensaiado e enganchou a letra, seu coração dava saltos e por milagre, ela não sentia um pingo de falta de ar.
Enfim,
De tudo o que
Há na terra
Não há nada em lugar
Nenhum!
Que vá crescer
Sem você chegar
Longe de ti
Tudo parou
Ninguém sabe
O que eu sofri...

                A letra sempre a levava ao inicio de sua paixão por Lucca, cantá-la agora trazia certa nostalgia ao seu coração, deixou-se levar, a voz ganhando um tom melancólico que a letra pedia, ainda macia porém com um tom rouco ao fundo quando iniciou a frase, respirou puxando o ar ruidosamente de forma proposital, o teatro, a dor na voz, tudo se encaixou perfeitamente. Os presentes soltaram expressões de espanto e triunfo ao vê-la alcançar o tom facilmente e embalá-los numa tristeza gostosa.

Amar é um deserto
E seus temores
Vida que vai na sela
Dessas dores
Não sabe voltar
Me dá teu calor...

Vem me fazer feliz
Porque eu te amo
Você deságua em mim
E eu oceano
E esqueço que amar
É quase uma dor...

Só sei viver
Se for por você!

                A intenção na voz ficou perceptível, ela quis que ele soubesse que as últimas silabas eram para ele, girou a cabeça levemente na direção do contrabaixista, sussurrando melódica. Quando acabou sorriu para a salva que recebia em troca. Haviam pessoas com lágrimas nos olhos a encorajando a cantar novamente.
                Aline se postou ao lado dela, segurando o microfone com posse, Anne se afastou trôpega, ainda embebida pela canção, seus olhos marejados. Foi para detrás do palco para recuperar-se do nervosismo.
                Pensou no momento em que recostou-se na parede fria que não havia notado quando toda a banda acompanhou o piano, cantar com eles era como beber água, natural. Ficava nervosa diante da platéia, mas ali era seu lugar, sempre fora. Sorriu agradecida por não ter errado o tom ou passado mal com a crise de asma, que agora voltava com toda a força. Usou a bombinha sorrindo para o aparelho.
                ― Por que nunca fico ruim enquanto canto? – perguntou a si mesma em um sussurro.
                ― Porque é um dom. – interrompeu sua mãe, a mulher havia estado lá o tempo todo, mas Anelyse não quis perguntar porque escondida, se abraçaram – Você foi excepcional. – beijou a têmpora da filha, afastando-se para olhá-la.
                ― O papai...?
                ― Eu disse que o Lucca me deixaria em casa, tudo bem?
                A garota fez que sim, algo lhe dizia que ele não negaria isso, nunca. Ouviu seu nome e olhou na direção da porta que dava para o palco.
                ― Venha, querem que você cante mais uma. – Lucca a chamava segurando o braço do contrabaixo com uma mão e a outra estendida para ela – Anne?
                Ela se apressou segurando-o pela mão e sorriu ainda constrangida. Era ovacionada pelo publico. Foi levada à frente do palco por mãos desconhecidas que a instigavam. Sorriu para Aline que não parecia tão relutante em lhe entregar o microfone. Estendeu a mão, porém recebeu outro. Um sem fio novo, prateado e fino na extremidade. Apertou o cenho confusa, mas a chamada da música a fez entender. Era um dueto.
                ― Você começa? – questionou baixinho e Aline fez que sim.
                Olhou os presentes e começou a melodia do McFly, a tradução falava sobre traição, a letra era forte, o ritmo encorpado. Anelyse estremeceu tentando lembrar se sabia a letra em inglês. Cantaram juntas, intercalando entre os solos para ao fim Anelyse não se intimidar e harmonizar com a segunda voz.
                Foram aplaudidas de pé e a garota não sabia se conter de felicidade. Uma hora depois estava do lado de fora esperando por Lucca que precisou guardar os instrumentos no estúdio e não aceitou a ajuda da garota, as pessoas passavam por ela e a cumprimentavam animadamente pela apresentação.
                ― Parabéns! Sua voz é incrível. – disse uma garota vestida toda de preto e cabelo cor de rosa, ela saiu apressada entrelaçando os dedos a mão de outra menina.
                Anne arregalou os olhos, ainda não estava acostumada as liberdades atuais, duas meninas namorando ou dois rapazes lhe deixavam com um nó no cérebro tentando processar. Não conseguia imaginar-se em uma situação daquelas e admirava quem tinha coragem de assumir. Sorriu quando sentiu os braços de Lucca envolvê-la pelos quadris.
                ― Oi. – beijou-lhe no lóbulo da orelha – Para a sua casa ou a minha? – Anelyse ergueu uma das sobrancelhas espantada e ele começou a rir – Estava brincando.
                ― Ah. – ela se virou e o abraçou com força – Foi perfeito, obrigada por me ajudar a ter coragem de cantar hoje.
                ― Você só precisava de um empurrãozinho.
                Ela notou a mãe logo atrás e sorriu.
                ― Amor, pode levar minha mãe também? Não sei se o Giovanni precisa de carona, mas ela sim.
                ― Claro. – olhou no relógio, beirava a uma da manhã – Sua mãe estar junto significa que podemos ultrapassar a hora, certo? – perguntou preocupado.
                ― Tinha esquecido... – resmungou baixinho e ele tocou-lhe o queixo erguendo-o para que ela o encarasse.
                ― Não estrague a felicidade desta noite, doçura. – riu com o apelido – Hoje senhorita Fantini, você se tornou a primeira garota que assumi em toda a minha vida. É minha namorada, a melhor cantora desta escola e a mais linda também. Vamos?
                ― Hm... obrigada. – soltou com um muxoxo tímido.
                Dona Jucélia se empoleirou no banco de trás do carro e Anelyse no do passageiro, vestindo o cinto de segurança, Lucca dirigiu sem pressa na direção da casa delas, depois de ter tido certeza que Giovanni teria como retornar.
                ― Lucca. – a mulher chamou-o.
                ― Sim senhora?
                ― Você ama a minha filha?
                ― Mãe! – Anelyse escondeu o rosto nas mãos.
                ― Amo sim senhora. – respondeu Lucca sem pestanejar.
                ― Então cuide dela, não ultrapasse os limites e não provoque meu marido. – pediu, a voz estava levemente melancólica. Anne olhou para ela questionadora – Você sabe que ele é bipolar, Anne, sabe que ele pode descumprir a promessa se achar que deve.
                Ela suspirou e se virou para a frente.
                Lucca colocou a mão em sua perna como uma forma de mostrar que estava presente, tentava imaginar pelo que a menina já passara com aquele homem, Luiz não parecia ser do tipo espancador e bipolar, mas as aparências realmente enganavam.
                ― Prometo que farei de tudo para não contrariá-lo. – prometeu.
                Estacionou à frente do portão da garota e a mãe saiu depois de dar um beijo na bochecha dele e pedir que Anelyse não se demorasse, assim que entrou na casa, Lucca tomou as mãos dela entre as suas.
                ― Obrigada pela paciência, Luc, não sei como você ainda está aqui depois de tudo.
                ― Também não sei, você me enfeitiçou. – murmurou ele beijando os nós dos dedos dela lentamente e dando algumas mordidinhas.
                Anne mordeu o lábio – E se o feitiço passar? – questionou-se, então sorriu deixando ser levada pelo beijo carinhoso que ele lhe deu.
                Despediram-se e depois que ela entrou na casa, Lucca dirigiu direto para o estúdio de seu primo, precisava ficar sozinho para entender o reboliço que estava acontecendo em sua vida. Adentrou o apartamento escuro indo direto ao quarto de hospedes que era o seu atualmente, odiava a casa gigante em que morava praticamente sozinho, com os pais.
                Livrou-se das roupas deixando-as sobre a escrivaninha e digitou uma mensagem no celular para Anelyse.

                Lindos sonhos, feiticeira.

                Sorriu para a palavra e deixou o celular sobre a camisa, entrando no chuveiro. Não costumava demorar, mas estava distraído pensando nela, em como poderia ajudar com os problemas que passa. Comparou com seus próprios problemas e se deu conta que ter pais ausentes não era tão ruim quanto apanhar daquela maneira.
                Saiu do banho pensativo, pois ela não demonstrara mais as dores, estaria escondendo dele? A possibilidade o deixou aborrecido, pois queria a confiança dela, que lhe contasse tudo, que pedisse sua ajuda.
                Adormeceu horas mais tarde, chateado.

                Era domingo de manhã, por volta de sete horas quando ouviu o celular despertando-o, correu para atender e como não suportava ser acordado, atendeu mau humorado.
                ― O que?
                Lu-Lucca? – gaguejou Anelyse do outro lado.
                Ele respirou fundo amansando os cabelos e dando um puxão para despertar do mau humor e do sono. Sorriu com a voz.
                ― Anne... bom dia. Que horas são?
                Bom... sei que é cedo, mas... te acordei ne? Desculpa... – a voz dela estava sussurrada e ele notou que parecia até tremula.
                ― Aconteceu alguma coisa?
                S-sim. – murmurou – Posso passar o dia com você? – pediu e pelo seu tom ele sabia que ela estava se esforçando muito para pedir.
                ― Claro que pode. Posso te pegar que horas?
                Anelyse pensou em dizer “agora”, mas mordeu o lábio olhando no relógio de seu celular, estava ligando do numero do irmão.
                Quando você puder.
                ― Em uma hora. – prometeu.
                Desligaram e ele se apressou para se arrumar, tinha planejado vê-la mais tarde, e não se importava de ser mais cedo, mas uma angustia se instalava em seu estomago o perturbando. Por que ela queria vê-lo? Iria terminar? Teria apanhado de novo? Trincou o maxilar jurando que espancaria o homem na mesma proporção se tocasse nela de novo.
               
                Ricardo e Aline haviam dormido juntos naquela noite, algo comum para o casal apesar de terem discutido muito antes da trégua. Ela despertou o observando adormecido a seu lado, ele tinha o rosto sereno, mas ela sabia que em breve o veria mortífero de novo, portanto decidiu aproveitar daquele momento para admirá-lo. O amava? Acreditava que sim, mas a rotina os havia engolido um pouco e ela se pegava suspirando por Giovanni algumas vezes, não queria que fosse assim, pois até alguns meses viam-se apenas como irmãos e ele era obcecado por Letícia a prima de Ricardo.
                Que coincidência ridícula! – caçoou sua consciência ao lembrá-la que tanto Lucca quanto Letícia se apaixonaram pelos irmãos.
                O peito do homem estava descoberto revelando alguns pelos castanhos ali, ela deslizou os dedos cautelosamente sentindo a fortaleza de seus músculos. Como podia duvidar do que sentia por ele quando até dormindo ele a deixava desconcertada? Sentiu os olhos marejados ao se dar conta que ainda o amava, não queria perdê-lo por ter sido tola. Se aninhou a ele sentindo-o puxá-la para si e só então perceber que ele já havia despertado.
                ― Faz tempo que acordou? – perguntou ela, escondendo o rosto no vão de sua axila. Ele era sempre cheiroso e bem cuidado.
                ― Um tempo. – murmurou rouco, ela suspirou acariciando o peito dele, os dedos ainda estavam ali – Dormiu bem?
                ― Humrum – chiou baixinho, a garganta apertando com medo de reiniciarem a briga – E você?
                ― Não muito. – confessou. Ricardo virou o corpo a obrigando a sair de sua posição de conforto e o encarar, tocando seu rosto e o puxando violenta e cautelosamente para cima – Pensou?
                ― Sim.
                ― E?
                ― Não quero mais discutir. – choramingou.
                ― Você não tem que querer, apenas responder minha pergunta. Quer terminar nosso compromisso, Aline?
                ― Não. – foi firme.
                ― Mas?
                ― Sem mas. Amo você, não tenho duvidas quanto a isto. – quando viu que ele a interromperia negando acreditar, ela se sentou e cruzou os braços irritada – E ai de você se não acreditar em mim, Ricardo André Dalostto!
                Ele ergueu uma sobrancelha diante da atitude dela, irritada Aline ficava irresistível e ele precisou de todas as forças para não despi-la e fazer as pazes com ela ali, ao lado do quarto de seus pais.
                ― Senhorita Aline da Silva – ela fez uma careta desgostosa para o sobrenome comum que possuía – então, você me ama e ainda quer se casar comigo?
                ― Amo. – um bico se formando em seus lábios rosados.
                Ele passou os dedos nos cabelos dela que estavam emaranhados, puxou-a para si a obrigando a se sentar sobre seu quadril, ele estava excitado e ela arfou baixo com a sensação de desejo que a possuiu.
                Ricardo entrelaçou os dedos com firmeza nos fios de cabelo dela formando um nó em volta de sua mão direita e puxou com força, ela gostava disso, seus lábios se entreabriram quando o queixo foi para cima. Ele mordiscou-lhe a mandíbula calculadamente, a mão livre apoiada na cintura dela, a puxando para se moldarem um ao outro. Estava apenas com a boxe branca e ela com uma camiseta e a calcinha o que facilitava sentirem o quanto se desejavam. Ele sussurrou rouco quando chegou no ouvido dela, a língua rodeando o lóbulo.
                ― E quanto ao Giovanni?
                ― O que? – estranhou o assunto quando estavam tão íntimos e arfou quando ele puxou a ponta da orelha junto seus cabelos deixando uma dor perpassar por seu couro cabeludo.
                ― O ama? O deseja?
                A voz de Ricardo estava alterada de desejo, fúria, ciúmes. Aline conhecia o lado selvagem do noivo, mas nunca o tinha sentido tão brutal. E gostou disso. Provocou-o murmurando uma resposta sem realmente dizer algo. Ele puxou-lhe os cabelos e a encarou exigindo que falasse algo.
                ― O amo. – arriscou.
                Os olhos dele se tornaram inflamados e a respiração dela se alterou furiosamente, embaixo de si percebeu o quanto a confissão falsa o excitou, não sabia porque, o quão ele era maluco, deixou um sorriso malicioso cruzar seus lábios e rebolou.
                Ele a prendeu obrigando a parar de se mover, puxou-lhe o lábio com fúria.
                ― Deseja ser possuída por ele, Aline?
                ― Não. – respondeu e percebeu que ele perdeu a postura altiva, esperava que ela respondesse sim, seu corpo ardeu de desejo, expectativa. A confusão manifestada em seu rosto – Você quer que eu o deseje?
                ― Quero. – confessou roucamente – Peça por ele. – murmurou rodeando a língua no lábio inferior da mulher – Me deixe furioso Aline. – pediu.
                Resolveu não pensar e perguntar depois o que era aquilo. Ela cravou as unhas na nuca dele gemendo quando ele a puxou pelos cabelos a tirando de seu colo e a deitou na cama. A dor criou lágrimas em seus olhos e umedeceu sua calcinha deliciosamente. Ela gemeu e ele riu raivoso. A raiva o deixava como ela gostava, nada carinhoso e totalmente possessivo. Cravou os olhos nos dela esperando, não queria se tornar amoroso, queria possuí-la com raiva, mas sua personalidade não permitia que fizesse isso, a mente raciocinava corretamente sem estar furioso. Ele riu.
                ― O que foi?
                Ela queimava diante do olhar tempestivo dele, fechou os olhos sentindo sua calcinha ser arrancada por ele, abriu erguendo o tronco quando ele puxou também a camiseta.
                ― O que queria que ele fizesse com você, agora? – sussurrou observando-a nua. Queria beijá-la, acalentá-la, mas em seu intimo queria machucá-la, marcá-la, mostrar que ela tinha dono.
                ― Que me beijasse, me possuísse, me fizesse sentir desejada. – o olhar dele a encorajava a continuar, mas ela falava de Ricardo e não de Giovanni e no fundo ele também sabia disso.
                ― Vadia. – xingou e ela soltou um gemido de aprovação, rindo de súbito, surpresa por ter gostado – Você vai ser possuída, por mim, cachorra.
                Ele desceu a cueca e sem prepará-la a penetrou. O grito de ambos ecoou na casa constrangendo os pais que estavam no quarto ao lado.
                Movia-se furioso, encarando os olhos de Aline, ambos conectados de forma que jamais ficaram, era disso que precisavam, libertar suas vontades, deixar o formalismo de lado, pertencendo realmente um ao outro. Ela gemeu baixo mordendo o lábio com força quando ele acelerou os movimentos, estava tempestivo, furioso, ardente. Ela queria se contorcer e gritar, mas antes que fizesse Ricardo a calou com um beijo, a língua se movendo do mesmo modo intenso que as investidas que dava contra ela. Foi rápido, mas arrebatador.
                Deitaram-se lado a lado, ofegantes, rindo do acontecido e novamente ligados, ele a aninhou desenhando carinhosamente a bochecha dela com o polegar.
                ― Por que pediu aquilo? – perguntou sonolenta e feliz.
                ― Aquilo o que?
                ― Do Giovanni. – murmurou temerosa e ele riu, não sabia como estava tranqüilo por causa do ciúmes.
                ― Porque isso me deixa irritado.
                ― Ah...
                Novamente ele riu, a beijou nos lábios carinhosamente e suspirou, levando a mão dela até seu quadril, estava novamente desejando-a.
                ― Muito irritado. – demonstrou com sua excitação.
                ― Ah... – sussurrou mordendo o lábio e ambos riram.

                Lucca chegou à casa de Anelyse por volta das nove da manhã, estava vestido de jeans escuro, camiseta branca e tênis, seus cabelos ainda molhados do banho. Antes de tocar a campanhia enviou uma mensagem para ela avisando que estava na porta, porém foi o pai que o atendeu.
                ― Bom dia senhor.
                ― O que faz aqui tão cedo, garoto?
                ― Anelyse e eu vamos passear.
                ― Qual era a regra?
                Lucca esqueceu-se totalmente, mas se recompôs.
                ― Durante a semana namoramos aqui em sua porta e devemos guardar os passeios para o final de semana. – lembrou.
                ― Oh... – Luiz pareceu confuso, mas não argumentou. Anelyse se despediu trancando o portão e em seguida entrando no carro do rapaz.
                ― Vamos, por favor. – sussurrou.
                ― O que houve? – perguntou depois de afastarem-se da casa. Segurou a mão dela dando um beijo rápido.
                ― Ele está muito irritado hoje. – confessou – Não queria ficar em casa, desculpa te acordar.
                ― Gostei que me acordou. – sorriu – Bem, mais ou menos... não sou muito bem humorado de manhã.
                ― Eu sei. – ela o olhou, corando.
                ― Como sabe?
                ― Presto atenção. Quando temos aula de manhã geralmente você está de mau humor. – riu baixinho.
                Ele suspirou e riu em seguida, um pouco perturbado em se sentir tão louco por ela.
                ― Isso me lembra... como está suas costas?
                ― Melhor. – fez uma careta desviando os olhos para a janela – Para onde vamos?
                ― Não sei. Não pensei nisso, estava preocupado.
                Silenciosamente ela repousou a mão na coxa de Lucca, fazendo carinho, ele sorriu pegando a mão e lhe dando um beijo carinhoso, seguiram para o apartamento onde ficava o estúdio, sabia que era perigoso ficar sozinho com ela, mas ansiava beijá-la até tomar-lhe o fôlego.
                Seguiram em silencio até o apartamento, durante o trajeto Lucca enviou uma mensagem ao primo pedindo que não fosse até lá, pois estaria com Anelyse, sorriu da travessura e devolveu o celular ao bolso da calça.
                ― Tomou café da manhã?
                Ela mordeu o lábio e fez que não, pois não tinham nada para comer em sua casa, somente arroz para o almoço, ela havia entregado para a mãe cem dos trezentos reais que economizara para ela comprar comida mais tarde.
                ― Você comeu? – perguntou baixinho e ele também negou, tinha saído apressado para busca-la.
                Se aproximou segurando-a pela nuca e antes de qualquer decisão sobre o café decidiu beijá-la. Não havia pressa apenas carinho no movimento dos lábios contra os dela. Anne sorriu se perdendo no beijo, esquecendo de tudo o que passara naquela madrugada, até Lucca apertar suas costas e puxá-la contra si. O susto que levou com o choro dela o fez se afastar bruscamente e ela cambaleou até se segurar na parede mais próxima, sentia as costas latejando e o bumbum era o local mais sensível do seu corpo naquele momento.
                ― O que aconteceu? Você disse que estava melhor, Anelyse!
                As lágrimas vieram teimosas e ela não aguentou mais esconder, iniciando um choro compulsivo e audível. Ele a abraçou tentando acalmá-la, fazendo caricias nos seus cabelos em silencio, a conduziu até o sofá a colocando delicadamente sob suas pernas. Ficou em silêncio até que a menina parasse de chorar e pudesse explicar o que estava acontecendo. Os minutos se passaram arrastados e ele já tinha planejado várias formas de matar o pai dela.
                ― D-desculpe. – gaguejou – Desculpe...
                ― Não se desculpe, só desabafe comigo, quero saber o que houve, meu amor.
                ― Podemos não falar disso? – pediu cautelosa, aceitando o lenço que entregava a ela.
                ― Não, realmente não. Me fale, ele te bateu de novo?
                ― Humrum.
                ― Isso é um sim?
                ― Sim.
                ― Por que?
                Lucca tentava manter a voz branda, pois percebeu que cada vez que falava mais alto ela se encolhia.
                ― Porque o desafiei na sua frente ontem e ele disse que vamos nos mudar.
                ― Mudar? – a encarou – Para onde?
                ― Não sei, ele não quis falar. Nem temos condições de nos mudar, isso com certeza foi só para me assustar. – explicou rapidamente.
                ― Você confia em mim? – perguntou algum tempo depois, não sabia o que dizer a ela, nada faria o que aconteceu desaparecer.
                Anelyse limpou os olhos e o nariz com o lenço e ergueu a cabeça do peito dele para responder, encarando-o.
                ― Confio, por que?
                Lentamente ele a aninhou, enfiou o braço por baixo das pernas dela e o outro firmou em suas costas, deu um impulso se levantando do sofá, Anelyse era mais pesada do que ele estava imaginando, mas não demonstrou, a carregou até o quarto onde estava dormindo, a sentou na beira da cama e enquanto ela absorvia o ambiente, retirou-se para o banheiro.
                O quarto estava com as luzes apagadas mas uma luz fraca passava pela brecha minúscula na janela. Era branco e os moveis em tons neutros e pasteis. A cama de casal em tamanho normal, coberta por uma colcha bege. Um armário na parede oposta a porta contendo cinco portas e algumas gavetas. Não havia muito ali que pudesse chamar a atenção de Anelyse, a não ser a presença de Lucca ao retornar.
                A boca do estomago dela se contraiu de nervoso, confiava nele? Sim... mas não para fazerem amor depois dela ter apanhado e estar tão vulnerável, surpreendeu-se ao perceber as lágrimas nos olhos por achar que ele tentaria aquilo num momento tão difícil para ela. Abaixou o rosto olhando para os pés.
                ― O que foi? – perguntou ao se aproximar e notar o olhar baixo – Ah claro... você está triste por causa do seu pai. – explicou a si mesmo.
                ― É... – mentiu – Ahm... por que estamos aqui?
                ― Você pediu para te buscar... bem cedo aliás. – tentou brincar para vê-la sorrir e conseguiu.
                ― Não, quero dizer, aqui aqui. Neste quarto! – ela gesticulava nervosamente ao dizer.
                Como estava preocupado e distraído com o frasco que tinha nas mãos, não percebeu a insegurança dela, apenas a encarou e lançou um sorriso cúmplice e carinhoso, que a fez gelar mais uma vez.
                ― Quero cuidar de você, posso? – mostrou o pote, o cheiro de ervas finas estava forte mas havia algo mais na mistura que ele colocara ali, pois havia um palito de madeira com que ele mexia o creme.
                ― O que é isso?
                ― Creme para o corpo e eu coloquei um pouco de gelol para a dor. – explicou – Mas pouco por causa da sua alergia.
                O rosto dela ficou espantado, mais ainda quando ele se adiantou falando da alergia, poucos sabiam que cheiros fortes atacavam a asma dela. Sorriu constrangida.
                ― Obrigada.
                ― Confia em mim, certo?
                ― Por que a pergunta?
                ― Porque vou tirar sua blusa e abrir seu sutiã. – explicou sem nenhuma timidez, Anelyse arfou com a idéia dele lhe ver semi-nua.
                ― Para que?
                ― Para passar o creme.
                Apenas para saber da reação dele, ela acrescentou enquanto tirava os tênis para não ter que olha-lo diretamente.
                ― Se eu disser que meu bumbum também está machucado...
                Ela não precisou terminar a frase para ele respirar fundo, riu divertida com isso e esticou os braços para cima. Lucca a encarou, havia um brilho em seus olhos que ela não conhecia, mas gelou a boca de seu estomago mais uma vez.
                ― Não me seduza. – pediu baixinho, agarrando as bordas da camiseta dela e erguendo, dobrou a camiseta sem tirar os olhos do rosto da menina – Vou olhar, não suporto não olhar. – sussurrou e o tom parecia pedir permissão.
                ― Se olhar não vai mais se sentir seduzido. – comentou baixinho ao imaginar o que ele veria, era gorda, seios enormes, a barriga dobrada sobre a calça. Suspirou.
                ― Ah vou. – repreendeu-a, então desceu os olhos analisando o colo, os seios pequenos dela, mas firmes. Ela estava acima do peso, porém não havia uma marca de estria, algo que ele achava que veria, ao contrário, a pele dela era uniforme, lisa, branquinha e convidativa. Lucca fechou os olhos e balançou a cabeça – Você tinha que usar sutiã de renda? – questionou rouco.
                ― Por que, não gosta? – sentiu-se corar ainda mais.
                ― Ah gosto. – murmurou se aproximando um pouco dela – Mas tenho que me concentrar nas suas costas, pode deitar?
                Havia um brilho sensual nos olhos de Lucca e rapidamente ela deitou de bruços, com medo de provocá-lo ainda mais. Não entendia como ele podia sentir-se atraído por ela. Assim que se deitou ele arfou, mas desta vez não pareceu sensual ou desejoso, mas aflito.
                ― Muito feio? – virou o rosto para o lado oposto dele e fechou os olhos, voltando bruscamente para a realidade.
                ― Talvez não dê para passar o creme. – comentou baixinho se sentando na cama – Desabotoa a calça. – pediu num sussurro. Ela hesita mas faz e delicadamente ele desce o tecido e o tira de Anelyse, não precisava descer a calcinha para ver que o bumbum está no mesmo estado que as costas – Com o que ele te bateu? – perguntou exasperado.
                Anelyse estava arfando por estar nua e exposta diante dele, não havia depilado as pernas, mas agradeceu por seus pelos serem fininhos e loiros. A pergunta a fez se concentrar de novo.
                ― Vara...
                ― O que? – se exaltou, colocou as mãos na cabeça e puxou os cabelos com força – Seu pai é um louco! Eu vou matar ele. – soltou entre dentes – Eu vou matar ele!   
                ― Lucca... é assim que ele disciplina... por favor, por favor... não fica assim. – pediu choramingando.
                ― Como posso não ficar assim se ele te feriu, Anne? – ele se ajoelhou ao lado dela na cama, no lado que ela havia virado o rosto e a encarou – Você não viu o que eu vi, está muito feio, me admira você ter conseguido sentar e vir até aqui comigo. – os olhos dele estavam inflamados, em fúria – Seu pai merece uma surra.
                ― Me promete que não vai fazer nada?
                ― Não posso prometer isso.
                ― Ele vai descontar em mim se você fizer. – isso o fez repensar, Lucca respirou fundo, fechando os olhos por um segundo.
                ― Por hora, não farei nada. – prometeu – Posso tentar passar o creme?
                ― Pode... se doer eu aviso. – murmurou baixinho – Obrigada por entender.
                ― Não entendi, só não quero ele descontando em você. – se levantou bruscamente, estava irritado.
                A menina respirou fundo, não o queria bravo com ela.
                ― Não queria que você visse, mas... eu precisava sair de lá. Não fica chateado comigo. – pediu baixinho.
                ― Não estou chateado por ter me procurado, Anelyse, estou bravo com o que um homem adulto fez com você. – ela sentiu a cama afundar quando ele tornou a se sentar, o cheiro do creme pairou no ar – Vou abrir seu sutiã – avisou baixinho e o desatou, Anelyse suspirou quando sentiu o alivio da peça sendo afastada de sua pele, não se constrangeu desta vez, pois ele estava apenas cuidando dela, era o que o cérebro a fazia se lembrar para não corar – Agora vou passar o creme, pede para parar se doer, ta?
                ― Ta bom.
                Lucca espalhou uma quantidade generosa nas mãos, o cheiro do gelol estava fraco e esperava ser suficiente para amenizar a dor dela. Nas costas incontáveis vergões roxos, esverdeados, rubros, alguns bem saltados sob a pele branca. Contou mais de cinco que pareciam a ponto de romper e sangrar, estes ele evitaria tocar. O bumbum estava igual, mas ali havia a marca concreta do material que ele usou para bater nela, um vergão do tamanho de dois dedos, saltado e roxo escuro. Hematomas feios que demorariam semanas para desaparecer. Respirou fundo e tocou o centro das costas dela delicadamente, o local onde estava o feixo do sutiã parecia o menos afetado, por isso começou por ali.
                A menina retesou-se e apertou os olhos sentindo a dor reverberar pelo corpo, causando pequenos pontos de choque, mas conforme se acostumava com o carinho leve, ia relaxando, suportando as fisgadas para deixar que cuidasse dela. Apesar da dor e da vergonha de mostrar-se vulnerável e deixar que mais alguém soubesse do que passavam em sua casa, estava reconfortada por Lucca se preocupar com seu bem estar, nunca em sua vida imaginou estar seminua diante dele e sendo tocada por ele.
                ― Está doendo? – sussurrou.
                ― Um pouco, mas está bom... – suspirou baixinho.
                O rapaz passou o creme por quase toda extensão das costas dela e nos vergões nas laterais também, evitou olhar os seios que estavam amassados entre a cama e ela com a queda do sutiã, e se condenou por se aproveitar da situação para observar o corpo dela, mordeu o lábio com força.
                ― Vou passar no bumbum...
                O rosto dele ficou vermelho, as sardas salpicando seu rosto, mais chamativas por causa da cor, Anelyse mordeu o lábio e nada disse, o carinho a estava instigando mais do que achava que deveria. Suspirou quando ele desceu o tecido até suas coxas.
                ― Estou com vergonha. – avisou baixinho.
                ― Eu também. – ele riu – Posso dar um beijo para sarar?
                Anelyse enfiou o rosto no travesseiro e soltou um grunhido, Lucca ficou paralisado achando que foi demais para ela. Começou a pedir desculpas mas foi interrompido.
                ― Pode... mas eu to mesmo com vergonha.  
                ― E eu também... mesmo. – sorriu com a voz. Abaixou o tronco e depositou um beijo casto em uma das bandas, depois na outra – Agora sara mais rápido. – comentou a fazendo rir sem graça.
                No bumbum ele não viu problemas em espalhar o creme com toques menos sutis, estava bem machucado, mas não tão alarmante quanto as costas. Anelyse gemeu baixo quando ele começou, firmando os glúteos.
                ― Relaxa por favor, para não doer. – sussurrou para ela.
                ― Luc...
                ― Não estou sendo pornográfico, te juro!
                ― Hã? – olhou para ele sem entender e ele deu de ombros, vermelho de novo, pois imaginou bobagens com a troca das frases, estava mais nervoso que ela.
                ― Nada, hm... Relaxe se não quando eu passar o creme vai doer.
                ― Vou tentar, mas você ta me tocando num lugar que não podia, é meio difícil... – riu baixinho.
                ― Ta gostando? – foi inevitável e ela fez que sim, timidamente – Então vou continuar.
                O corpo dela era firme apesar de estar acima do peso e o bumbum bem arredondado. Ele voltou a espalhar o creme, concentrado na tarefa como se fosse um enfermeiro, não queria mais tratar aquilo como brincadeira ou um momento intimo para os dois, queria se concentrar na realidade. Quem fez aquilo merecia uma lição, ele só não conseguia pensar o que poderia fazer para que o pai dela nunca mais machucá-la.
                Uma hora mais tarde ela estava adormecida, apenas de calcinha e com um leve lençol sobre suas costas. Quando terminou a massagem ela já tinha dormido e não quis despertá-la. Foi para o estúdio tocar piano, a única coisa que poderia distraí-lo um pouco, pois a fúria estava a ponto de explodir e se acontecesse o pai dela talvez não sobrevivesse para contar o que houve.
                ― Lucca? – ele deu um salto ao ouvir a voz dela na porta do estúdio, Anelyse estava com o lençol em volta do corpo, os cabelos revoltos e o rosto sonolento, se levantou indo na direção dela.
                ― Está se sentindo melhor?
                ― Muito melhor, obrigada... mas assustei quando não te vi. – confessou bem baixinho. Ele a conduziu de volta para o quarto e a fez se deitar, depois deitou junto deixando os tênis no chão.
                ― Não quis te acordar, vem, dorme mais um pouco. – abriu o braço esquerdo e ela rapidamente se aninhou ficando com metade do corpo sobre o dele para não encostar no colchão.
                O toque dele foi suave na nuca e nos cabelos dela, massageando, Anelyse passou a ponta do nariz no pescoço dele ouvindo-o gemer baixinho assim que ela mordeu o mesmo local, um sorriso se formou em seu rosto.
                ― Gosta de mordidas? – perguntou baixinho.
                ― Gosto de muitas coisas que você faz.
                Ela mordeu de novo, ele correu a mão até a coxa dela e a obrigou a sentir os quadris se moldando, a menina respirou fundo ao senti-lo e parou com a brincadeira, decidindo dormir.
                ― Você não se controla não?
                ― Só com você eu me controlo.
                ― O que? – arregalou os olhos e afastou-se o encarando – Tem outras?
                ― Não Anne! – riu baixinho dando um selinho nela – Quis dizer que é porque é você que eu me controlo, não faria isso por ninguém. Ninguém nunca mereceu meu respeito. Você conquistou, talvez por isso...
                Pausou pensativo e suspirou.
                ― Por isso?
                Virou o rosto a encarando.
                ― Que tenha me apaixonado por você. Só me apaixonaria por alguém tão incomum quanto você.
                Ela sorriu ao ouvir que ele estava apaixonado por ela, mas o incomum não surtiu o efeito que ele queria, ela se viu gorda, coitada por ter sido espancada e boba por ser inocente e ele não tocá-la mais intimamente. Suspirou deitando a cabeça no peito dele, dormiram pouco tempo depois.

 

Continua...



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