Capítulo 8
Luiz terminou
de abrir a porta e entrou no salão principal constatando o que ele já sabia:
que Anelyse não comparecera ao ensaio. Começou a gritar fazendo todos olharem em
sua direção, incluindo o maestro Valdir que estava encarregado de ensaiar o
coral para uma apresentação no final do ano.
_Alguém viu a
Anelyse? – sorriu desdenhoso esperando pela resposta negativa.
_Ensaiando no
estúdio junto com a banda. – o maestro respondeu.
Giovanni
reprimiu um riso e o pai fechou o cenho, contrariado.
_Onde fica?
_Terceiro
andar. – o maestro não gostava de ser interrompido, apontou na direção onde
estava Giovanni, que rapidamente se escondeu, e voltou-se ao coral. Eles
cantavam Agnus Day, uma música clássica de final de ano.
Apressou-se a
subir para o terceiro andar, e quando chegou viu uma porta de ferro pesada e
uma de madeira, abriu a de madeira sem pestanejar. A escola possuía um estúdio
próprio quase igual ao do apartamento de Lucca, a diferença é que o da escola
era muito maior, feito para gravar corais e bandas inteiras ao mesmo tempo. A
porta que ele abriu dava para o estúdio de som, o operador olhou carrancudo
para ele e pediu silêncio. O homem se apressou para olhar pelo vidro, Anelyse
estava de costas, olhando para a banda, cantava uma das músicas que apresentariam
naquela noite. Parecia não se dar conta que estava sendo observada.
_A voz da sua
filha é incrível. – sussurrou outro rapaz, este estava com uma guitarra na mão,
dedilhando notas a esmo, sem som.
Luiz
lembrou-se dele, era um dos amigos de Giovanni, Anderson.
_Obrigado. – o
encarou – Sabe há quanto tempo ela está ensaiando?
_Quando
chegamos, já estava no estúdio com o Lucca e o Ricardo. – comentou, Lucca havia
pedido que evitassem dizer a hora que chegaram caso o pai aparecesse.
Luiz trincou
o maxilar olhando na direção da banda novamente. Ricardo parecia hipnotizado
ouvindo sua filha cantar, sentiu-se mal por desconfiar dela e saiu de lá,
andando de cabeça baixa até chegar a seu carro. Giovanni estava encostado no
para-choque o aguardando.
_Venho buscar
vocês. – avisou entrando no carro.
_Não. Eu e a
Anne vamos sair e depois ela vai comigo para casa. Se o senhor encostar mais um
dedo nela, eu mesmo vou a policia. – ameaçou.
Luiz saiu do
carro e andou na direção do filho, enfrentando seu olhar.
_Vai mesmo me
desobedecer?
_Com todas as
minhas forças.
O homem riu e
ficou sério de repente. Giovanni não reconheceu aquele olhar, mas precisou se
esforçar para não desviar e perder aquela luta.
_As dez
estarei aqui. Se não estiver junto com sua irmã, nem ela e nem você entram em
casa.
Deu as costas
e voltou a se sentar no banco do motorista. Não houve mais nenhuma palavra,
porém enquanto o homem não saiu, Giovanni não desviou o olhar. Quando o fez
percebeu que tremia dos pés a cabeça. Escorou-se na árvore em frente a escola
de artes para recuperar o fôlego.
_O que houve?
– nem havia notado que Letícia estava por perto, virou- se e a abraçou. Evitavam
esse tipo de contato, não havia um acordo entre eles algo que tivessem
combinado, porém procuravam sempre manter uma distância segura, por isso quando
sentiu os braços a envolvendo tão pesadamente, arfou assustada – O que houve
Giovanni? – repetiu.
_Tem algo
errado com ele. – sussurrou, sabia que passara dos limites a mantendo tão perto,
mas estava aflito, em seu intimo achava que o pai não estava em seu juízo
perfeito.
Letícia afastou
o rosto para encará-lo, tentando decifrar o que tinha abalado tanto o rapaz.
Assim que os olhos se encontraram ela disparou.
_Ele ameaçou
vocês.
_Como você
sabe?
_Não é
preciso ser um gênio, mas bem... eu sou perceptiva. – sorriu tentando animá-lo –
O que ele falou que te deixou assim?
_Que se eu e
a Anne não estivermos aqui as dez, ele não nos deixará entrar em casa.
_Mas a
apresentação termina lá pela meia noite. – comentou.
Ele concordou
lentamente, depois lembrou de soltá-la e relutante, afastou-se.
_Só me
recordo dele assim quando bebia, mas não parecia bêbado. – confessou.
_Lembro das
histórias.
Letícia, apesar
de nova, tinha uma carga de vida que lhe fizera amadurecer muito rápido e já
não suportando ver a preocupação no rosto do rapaz, o afagou com a palma da
mão, Giovanni a encarou e então apertou os olhos, afastando-se
milimetricamente. Evitavam o contato físico mais para que ele não perdesse o
controle.
_Você... –
ele abriu os olhos e ela permaneceu encarando-o e com a mão em seu rosto,
umedeceu os lábios lentamente e parecia encorajá-lo – Ta tentando me seduzir? –
tendia a fazer brincadeiras quando estava nervoso, por isso Letícia não
estranhou a mudança repentina no assunto e na fisionomia dele, que antes estava
abatida e agora curiosa, até divertida.
_Talvez. –
admitiu.
O toque foi
suave, porém perceptível. A menina apertou de leve os dedos no rosto dele e
deixou a mão escorregar até a nuca, tão lentamente que um rastro quente ficou no
caminho. Giovanni encarou os lábios finos com volúpia, seu corpo ainda tremia,
mas dessa vez de ansiedade. Olhou nos olhos dela e em seguida novamente nos
lábios, indeciso.
_Você sabe
que...
_Me beija
logo! – reclamou.
Lentamente
retirou as mãos dos bolsos envolvendo a pequena cintura, levando o corpo quase
amolecido até o seu, notava o mesmo nervosismo nela, afinal sabia que seria seu
primeiro beijo e esperava ser o único a experimentar aquele sabor. Ela envolveu
o pescoço dele com as mãos demonstrando que tinha certeza do que queria,
esperando que estivesse dando os sinais certos para ele avançar. Os segundos
entre a espera e o toque dos lábios pareceram demorar um século, mas quando
finalmente se tocaram, ela sentiu como se o mundo começasse a girar. Prendeu os
dedos nos cabelos dele e apenas seguiu seu instinto, movendo os lábios quando
ele movia, os abrindo quando ele o fez e parando de respirar quando a língua
entrou em sua boca. Giovanni percebeu a surpresa dela e quase riu de sua
inocência, era tão adulta as vezes que era fácil esquecer que era ainda muito
jovem. Lhe deu um selinho demorado e ficou com os lábios nos dela, apenas
apreciando o gosto jovem, e o tremor de ambos.
Lucca e
Anelyse saiam pelo corredor da escola quando se depararam com a cena e pararam
na entrada, estarrecidos. Anne logo abriu um sorriso, mas Lucca rangeu os
dentes, ameaçando ir até eles.
_Fica quieto.
– ordenou a ele, que sorriu envergonhado quando percebeu a bronca.
_Eu sabia que
ia acontecer, mas é estranho. – confessou passando os dedos na nuca.
Anelyse
sorriu e o encarou.
_Acho que ter
mais alguém na mesma situação deu coragem para eles avançarem. – comentou
baixinho, tirando Lucca do caminho, pois haviam parado na saída.
Afastaram um pouco
deles para não atrapalhar e ficaram conversando baixinho.
Giovanni e
Letícia pareciam em outro mundo, alheios a tudo e qualquer problema. Ele mal se
lembrava do pai e queria experimentar mais um pouco do gosto daquela boca
pequena. Aproximou novamente e beijou, demorando a afastar os lábios.
_Eu fiz
certo? – perguntou tão baixo que quase não ouviu.
_Você foi
perfeita. – sussurrou passando a ponta do nariz no dela e depois o beijando –
Só que agora será muito, muito, muito difícil ficar longe de você.
_Não quero
que fique longe. – arrastou os dedos nos cabelos dele, fazendo carinho e
abrindo os olhos percebendo o quanto estavam unidos, suas testas estavam
coladas e podia sentir a respiração dele em seu rosto – Nunca quis que ficasse
longe.
_Sei que não,
mas você é nova, tem muito ainda para viver.
_Melhor
ainda. Tenho mais tempo para passar com você.
O sorriso
dele se alargou, com jeitinho acomodou os lábios nos dela de novo dando beijos
curtos, e pequenas mordidas, sentia-se arrebatado.
Em casa, Luiz
seguiu direto para o quarto do casal, deitou-se pensativo. Sabia que tinha de
fazer alguma coisa para que nenhum de seus filhos perdessem suas vidas como ele
havia feito. Se tivesse agido corretamente com Jucelia, talvez teriam uma vida
melhor agora e não passando por problemas financeiros e tantas privações.
A mulher
entrou em silêncio e se sentou na ponta da cama, deslizou a mão pela coxa do
marido que abriu os olhos para encará-la.
_Brigaram? –
perguntou num tom neutro, pois não queria mais brigas.
Com o maxilar
trincado ele apenas confirmou, segurou a mão da esposa e a puxou violentamente
para a cama. Jucélia gritou surpresa com a atitude, mas logo deixou envolver-se
pelos braços fortes de Luiz, seus lábios exigindo um beijo, as mãos a despindo
sem algum pudor. Fazia muito tempo que ele não a procurava como homem, por isso
não demorou a retribuir o gesto, se livrando das roupas dele com a pressa e a
agilidade de uma mulher experiente. Riram ao perceber o que estavam fazendo. A
mulher tinha um olhar carregado de emoção e desejo, e ele de felicidade, pela
certeza de que por mais que a vida fosse sofrida, sempre teriam um ao outro.
Se amaram
como se o mundo não mais existisse, sem alguma pressa, curtindo o momento que
sentiam falta. Ao termino Luiz a fez moldar-se ao seu corpo, deitada de bruços
sobre ele, enquanto dedilhava suas costas e poupa do bumbum lentamente, tirando
os fios de cabelo da pele úmida e os enrolando em uma das mãos. A mulher
mantinha o rosto acomodado em seu peito forte, os olhos fechados e um sorriso
largo no rosto.
_Eu te amo,
você sabe. – comentou como uma confidencia.
_Eu também te
amo, Luiz. – esticou o rosto e o beijou carinhosamente, voltando à posição
inicial.
_Não sei o
que me deu ontem e não sei como lidar com essa novidade. – sabiam que estavam
adiando a conversa, mas agora ela tinha certeza que resolveriam.
_Ciúmes,
medo. – comentou no mesmo tom dele, carinhosamente – O que te preocupa de
verdade?
_Que ela
engravide e se perca no mundo. Esse rapaz é músico, você sabe como eles são. E
pelo que descobri, ele nem terminou o namoro e está saindo com nossa filha.
_Luiz, não
julgue o garoto sem conhecê-lo. Ao que me parece ele é bem correto com a Anne,
até a pediu em namoro. – o homem fez um som de desgosto e ela continuou antes
que ele falasse – Não é um caso que precise resolver com agressão física, mas
talvez com uma conversa. Há quanto tempo nós sabemos que ela gosta desse rapaz?
_Quase um
ano. – admitiu.
_Deveríamos ter
prevenido antes, como não dissemos nada por achar que ele nunca olharia para
ela, agora não podemos ir contra, mas apoiar.
_Ela é muito
nova para namorar.
_Hoje em dia
meninas com dez anos já deram seu primeiro beijo, outras com quatorze já são
mães. O que prejudica é ser bruto ao invés de conversar. – foi firme, em
seguida o encarou, apoiando o queixo em seu peito – Vamos confiar que a
educação que demos aos nossos filhos foi suficiente para não cometerem os
mesmos erros que nós. O Giovanni é um rapaz sensato apesar de avoado e a Anne
já deu provas de que também é.
_Não quero
admitir, mas você está certa.
Jucelia
sorriu e se esticou para lhe dar mais um beijo, sentiu imediatamente o corpo do
marido responder e começou a rir.
_Você gosta
quando mando em você, não? – maliciou.
_Não. – girou
o corpo ficando sobre ela e se acomodou com precisão dentro de Jucelia que prendeu
o ar com a surpresa e o encarou – Mas sei admitir quando estou... errado.
O grupo
conversava animadamente dentro do salão aguardando o horário doa apresentação. Anelyse
e Lucca não disfarçavam que estavam namorando, mas pediram discrição aos outros,
explicando que o rapaz ainda não havia conversado com o pai dela e que poderiam
ter problemas. Lidia apenas observava de longe, sentada com duas de suas mais
novas amigas, Flavia e Cristiane, que haviam se matriculado naquela tarde e que
nutriam o mesmo desprezo por Anelyse.
_Então Anne,
me falaram que você compõe, é verdade? – ela olhou para Lucca nervosa, sentindo
as bochechas corando diante do questionamento de Ricardo.
_Mais ou
menos...
_A letra é
boa, mas a melodia é incrível. – admitiu Lucca com um sorriso orgulhoso.
_Para... –
pediu sem graça quando notou que todos a encaravam com descrença.
_Vamos
mostrar para eles.
Lucca a puxou
para o palco, assumiu o piano e começou a dedilhar a canção que ela havia
cantado a ele na primeira noite no estúdio. Anelyse sorriu para a platéia,
tentava se recompor do nervosismo quando ele fez um sinal para que iniciasse.
Cansado estou de procurar
Alguma forma de te alcançar.
Tão diferentes, mas no mesmo lugar
O que nos uni faz-nos afastar.
Alguma forma de te alcançar.
Tão diferentes, mas no mesmo lugar
O que nos uni faz-nos afastar.
Quero gritar ao mundo
esse amor
mas não tenho voz! Não tenho voz!
Não tenho voz...
mas não tenho voz! Não tenho voz!
Não tenho voz...
Quando a
música findou, todos a encaravam com outros olhos, havia admiração e até
esperança em cada rosto presente. Ricardo subiu no palco retirando o microfone
da mão dela e a abraçou.
_Foi lindo prima. – olhou para Lucca rindo
divertidamente – Mas a letra é curta demais e fraca. Acha que consegue escrever
algo mais impressionante?
_Consigo. –
não deixaria a chance escapar, nem que precisasse passar as próximas madrugadas
acordada.
_Excelente.
A noiva dele
subiu logo atrás e a abraçou também. Só então ambas se deram conta do ocorrido
na semana anterior, quando a primeira assumiu a apresentação no lugar de
Anelyse.
_Eu devia ter
adivinhado que você era a Anne. – riu – Sua voz é realmente deslumbrante. –
admitiu e ficou ao lado de Ricardo.
_Ah... bem...
semana passada eu estava nervosa e você apenas salvou a noite. Só tenho a
agradecer.
_Desculpe ter
tirado o microfone de você.
_Momento perdoe-me porque pequei? – brincou
Giovanni se aproximando deles com Letícia ao seu lado.
_Nossa, todo
mundo resolveu se assumir? – ralhou Aline olhando para as mãos do casal, eles
seguravam apertado como se tivessem medo de se soltarem e acordar para a
realidade.
_Todo mundo
sempre soube que sou dela. – alfinetou Giovanni.
Aline mordeu
o lábio com força e quando se voltou para o grupo percebeu que Ricardo não
estava mais entre eles, se afastou disfarçadamente a procura dele.
_Eu sabia. –
sussurrou Leticia com um risinho travesso nos lábios, Anelyse a encarou
curiosa, por isso explicou – Que ele tinha ciúmes do seu irmão.
_Ah.
_Ele não tem
ciúmes de mim, nunca olhei a Aline diferente, a considero como uma irmã.
_Mas ela não
te considera como irmão. – Letícia fez um bico encarando-o.
Giovanni
ergueu as sobrancelhas surpreso e olhou para a porta por onde Aline saiu,
depois deu de ombros e se voltou para Lucca e Anelyse, seu semblante ficou
tenso.
_O pai vem
nos buscar as dez. – informou.
_Mas... a
minha apresentação começa as dez!
_Eu tentei
argumentar, mas ele parecia... louco.
Se
entreolharam e Lucca olhou no relógio de pulso.
_São sete e
se iniciarmos as apresentações antes? Converso com o Ricardo e adiantamos a sua
música.
_Pode ser...
– suspirou a garota que recebeu um beijo carinhoso dele.
Como o
maestro se aproximou, a conversa se encerrou ali e o ajudaram com os
preparativos do palco, pois dali uma hora o show começaria. Inicialmente com a
banda principal e nas apresentações finais com artistas convidados. Os que se
destacavam na escola geralmente eram convidados antes de se tornarem parte da
banda, um comichão fez Anelyse sentir o estomago gelado de ansiedade.
Tudo
transcorria bem, ela até se esquecera da dor e da agressão vivida mais cedo. O
palco estava pronto, a banda passando o som e ela observando Lucca no
contrabaixo, sentada em uma das mesinhas espalhadas no ambiente. Os olhos se
cruzavam com os dele constantemente, mas de repente o rapaz ficou sério,
olhando assustado para o fundo do salão, Anelyse acompanhou o olhar, seus pais
estavam a poucos passos dela, se aproximando. Levantou-se com dificuldade,
tremendo visivelmente.
_Oi filha. –
Jucelia beijou a face da menina.
_Oi. – não
tirou os olhos do pai enquanto ele não se sentou em volta da mesa.
Acomodaram-se, mas sem se agüentar disparou – O senhor disse dez horas, dez...
eu não posso ir agora! – choramingou temerosa.
Ele e a mãe
trocaram um olhar significativo, Luiz estendeu a mão sobre a mesa e a abriu
convidando a filha a segurá-la, apesar de não querer, obedeceu e ele apertou
firmemente os dedos em sua palma.
_Me perdoa?
Mal terminou
a pergunta uma cascata de lágrimas deslizaram pelo rosto da garota que não
respondeu de imediato, apenas o encarou com os dentes trincados.
_Perdoar...
pelo que? – queria ouvir.
O homem
suspirou e um brilho impaciente cruzou seu rosto, mas logo sumiu.
_Por ter te
batido ontem e julgado o rapaz. – sussurrou.
Lucca havia
parado de tocar e não desviava os olhos da mesa, tinha deixado o contrabaixo no
pedestal e estava pronto para retirar Anelyse dali caso seu pai a ameaçasse
novamente.
_Por que quer
o meu perdão se pretende fazer de novo?
Jucelia
arfou, conhecia bem a bipolaridade do marido para saber que ele não toleraria
as questões por muito tempo, conseguira levar sozinha as mudanças de humor
constantes, mas temia que agora ele descontasse também nos filhos, por isso
colocou a mão sobre as deles e cortou a resposta que Luiz começava a formular.
_Seu pai se
arrependeu, princesa.
_Eu quero
ouvir dele. – sussurrou, a falta de ar dando indícios concretos que se tornaria
pior, o chiado característico já se formava em seu peito. Ela encarou o pai
aguardando.
_Me
arrependi. – admitiu – Não estava preparado para te ver namorando, você é muito
nova e ele muito velho.
_Quatro anos
não é uma diferença que justifique o senhor me machucar.
_Já pedi
perdão o que mais quer que eu faça? – se levantou, Lucca já estava ao pé da
escada lateral do palco, o maxilar trincado e os olhos em fúria para o homem.
Anelyse
prendeu a respiração sentindo os olhos cheios d’água, Giovanni se juntou a eles
observando a conversa, mas sem coragem de se intrometer, nem Jucelia sabia o
que dizer, pois a menina não era de enfrentá-lo quando estava nervoso.
_Que prometa
que isso não va se repetir, que vai me tratar como gente. Que vai me deixar
trabalhar para ajudar em casa e namorar quem eu escolher para estar ao meu
lado. Eu vou emagrecer pai, vou fazer um tratamento, vou namorar o Lucca e
quero muito fazer parte da banda. Mas para isso, eu preciso do seu apoio.
Incondicional.
Todos a
encararam, pois havia mais ali do que apenas as cintadas que levou no dia
anterior. Anelyse guardara por muito tempo algumas mágoas, o fato do pai a
chamar de gorda sempre que passava mal por andar, ou de esconder doces dela
para que não comê-los, não deixá-la trabalhar porque era orgulhoso e achava que
devia ser quem supria as necessidades da família.
_Quando o
fato de você querer trabalhar veio parar nessa conversa? – esbravejou.
_Fale baixo.
– ralhou Jucelia constrangida.
Luiz passou
os dedos abertos nos cabelos, olhou Giovanni, Anelyse e depois Lucca logo atrás
dela, fez um sinal para ele se juntar, que rapidamente obedeceu. Sentou-se
novamente.
_Peça.
Lucca franziu
o cenho sem entender, mas Giovanni balbuciou atrás do pai a palavra namoro para
que o rapaz entendesse.
_Ah... –
olhou Anelyse e depois para Luiz e sorriu sentindo as bochechas esquentarem –
Pretendia fazer algo mais formal, seu Luiz, mas... permite que eu namore sua
filha, Anelyse?
Ambos estavam
com o estomago gelado de ansiedade, mas Luiz se achava mais esperto que a filha
e aquela manobra a faria esquecer das demais exigências, ele fingiu pensar,
suspirou e assentiu lentamente.
_Mas terão de
seguir algumas regras.
_Sim senhor.
_Não vai
transar com a minha filha antes do casamento.
_Pai! –
Anelyse escondeu o rosto entre as mãos constrangida, mas ele continuou.
_Ela não pode
chegar em casa depois da meia noite e durante a semana vocês só poderão se ver
na frente da minha casa e até as dez da noite no máximo, nada de passeios, ela
estuda e você trabalha, se forem passear guardem para o final de semana. Não
quero vocês sozinhos no quarto dela e nem no carro ou no seu quarto. E quero
conhecer os seus pais.
Com a última
exigência Lucca fez uma careta.
_Bom senhor,
talvez só uma dessas regras eu não consiga cumprir rapidamente. Meus pais quase
nunca estão em casa, mas vou convencê-los a separar um domingo para um almoço.
Pode ser na minha casa? – ofereceu.
Luis olhou
para a esposa que assentiu.
_Pode. Agora
saiam daqui antes que eu me arrependa.
Lucca apertou
a mão de Luiz demoradamente, tinha um sorriso idiota nos lábios, em seguida
estendeu a mão para Anelyse que fingiu não notar.
_E quanto as
outras coisas que eu pedi? Ainda não te perdoei.
O olhar que
Luiz lançou a ela fez o mundo parar por segundos intermináveis, ela levou a
bombinha aos lábios usando o remédio, e se preparando para o pior. Ele socou a
mesa com violência.
_Eu sou seu
pai e não o oposto. Não vou mais encostar em você e pode namorar. O restante
discutiremos em casa. Vamos Jucelia. – levantou-se sobre protestos da esposa,
mas não a ouviu. Sussurrou para que apenas ela ouvisse – Vou matar ela se não
sair daqui.
_Já sei que
não vai cumprir. – sussurrou Anelyse se voltando para Lucca, mas não repararam
que seu pai ouviu e saiu ainda mais furioso.
_Namorados. –
disse ele animado, ela sorriu se dando conta disso apenas naquele momento.
_E eu posso
voltar depois da apresentação! – riu baixinho. Ele se abaixou a frente dela e a
abraçou carinhosamente.
_Não exija
muito dele, não quero que a machuque de novo.
_Vou tomar
cuidado. – prometeu e trocaram um selinho demorado.
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