Capítulo Sexto - Amor e Música


Capítulo 6

                Demorou um pouco a conseguir segui-lo queria pedir desculpas mesmo sem saber pelo que, e só começou a andar quando notou que ele havia parado e a encarava duramente, do mesmo modo que fez em sua casa quando chegaram à festa.
                _Me responde uma coisa? – perguntou ao se aproximar, Lucca apenas assentiu. Abriu uma das portas do corredor e deu espaço para que ela entrasse – Por que tratou a Lidia daquele modo? Por que disse que ela nunca foi minha amiga?
                Estavam no estúdio de música, Anelyse conhecia bem estúdios, pois desde pequena o pai a levava para algumas audições que ele participou, havia desistido da carreira musical, mas ganhava algum dinheiro fazendo dublagem em filmes ou desenhos animados. Aquele estúdio não estava completo, mas era muito bem equipado. Havia uma mesa de som com vinte e quatro canais sobre uma bancada, à frente da janela de vidro transparente que dava para o outro lado na sala de captação. Lucca demorou a responder analisando o rosto dela, tinha esquecido totalmente o ocorrido assim que viu os olhos dela brilhando ao entrar no local.
                Ela deslizou a ponta dos dedos pela mesa de som e foi para o canto esquerdo onde havia um computador de última geração, estava desligado, mas imaginou que tipo de programas possuía. A mente divagou em vários que ela conhecia, alguns que arrumariam sua voz caso desafinasse se um dia gravasse seu tão sonhado CD. Mordeu o lábio ao notar um microfone largado sobre a bancada que fazia um L na sala. Pegou o cabo do microfone e começou a enrolar sem prestar atenção ao que fazia, Lucca se lembrou que ela fazia o mesmo ao final das aulas, não perguntava se precisavam de ajuda para arrumar os instrumentos e guardar os microfones, apenas arrumava.  
                _Não precisa fazer isso. – ele sussurrou retirando o cabo da mão dela e colocando de volta no lugar.

                _Ah desculpa ter mexido. – as bochechas ficaram rosadas imediatamente. Lucca sorriu.
                _Eu sei que você gosta de arrumar os microfones e às vezes os instrumentos. Por que faz isso? – encostou o tronco na parede, o ambiente não era muito grande não dando muito espaço para manterem a distancia.
                Anelyse sorriu timidamente, dando de ombros.
                _Não gosto de me sentir inútil. E você não respondeu minhas perguntas.
                _Vá para lá que eu respondo o que você quiser. – argumentou apontando para a sala de captação. Anelyse estremeceu.
                _Quer mesmo me ouvir cantar? – ele fez que sim, abrindo um sorriso enorme para ela – E vou cantar o que? – ficou um pouco desconfortável, se sentindo ainda mais nervosa.
                _O que você quiser. Eu vou tocar para você. – mostrou o case do violão que estava embaixo da bancada em uma espécie de gaveta sem tampo.
                Anelyse mordeu o lábio e sorriu para ele, assentindo, em seguida sem pensar se inclinou e beijou os lábios dele. Surpreso, Lucca apenas a encarou.
                _Por onde entro? – perguntou baixinho.
                _Na próxima porta, é só sair. A porta é pesada então você precisa fazer força para abrir. – ela fez menção de sair mas a deteve, segurando seu cotovelo, quando ela se virou ele afundou os lábios nos dela. Tinha uma necessidade quase insuportável de estar perto, de fazê-la entender que ele a queria. Como não sabia como dizer isso, demonstrava da forma que podia a beijando ou a envolvendo em sua vida, mostrando coisas que nunca compartilhou com nenhuma outra, pois as considerava uma aventura.
                _Por que fez isso? – sussurrou quando ele afastou os lábios dela.
                _Por quê? Não posso? – ficou dedilhando o rosto dela, olhando fixamente seus olhos.
                _Pode... quero dizer, não... – fechou os olhos com força para recuperar a vontade de se afastar. Ergueu o tronco se afastando dele.
                _Por que não posso? – novamente a tensão os repeliu.
                _Não quero ser mais uma.
                Ela deixou a sala, era covarde demais para enfrentá-lo de frente. Lucca apenas sorriu para a porta se fechando e olhou pelo vidro; a dificuldade que ela tinha para empurrar a porta de ferro o fez rir. Era pesada e grossa para abafar os sons externos e para manter a música ali dentro. Assim que ela entrou, ele a seguiu, entrando com facilidade. Anelyse o olhou enviesado e sem agüentar Lucca começou a rir.
                _Você fica linda quando está bravinha.
                _Não estou bravinha. – imitou o tom dele – Você podia ter me ajudado com a porta. – começou a rir também, passando a mão no rosto.
                O estúdio tinha um cheiro forte de lugar fechado, quase como mofo, mas ela sabia que era por causa do revestimento utilizado embaixo do carpete nas paredes, uma espuma especial para abafar o som externo e manter a música dentro da sala.      
                _Eu achei mais engraçado ver você empurrar a porta. – admitiu, depois pegou um banquinho que estava perto do piano ao fundo da pequena saleta e colocou no centro fazendo Anelyse se sentar nele, ela ficou um pouco mais séria quando ele indicou que sentasse. Apoiou os pés em um suporte de madeira que ele colocou a seus pés e se ajeitou sobre o banquinho – Você vai me ouvir por esses fones aqui, tente respirar sem soltar muito ar, porque o microfone capta tudo. Ta bem? – dizia enquanto colocava nos ouvidos dela fones de ouvido grandes, profissionais.
                _Ta bom... e você fugiu de novo da resposta. – acrescentou e o viu sorrir. Lucca piscou para ela e saiu da sala – E pelo visto não pretende responder. – sussurrou para si mesma.  
                Lucca entrou na sala e a encarou do outro lado, ele tinha imaginado a cena tantas vezes que pensou estar em outro devaneio, era estranho de repente perceber que pensava nela a mais tempo do que imaginou. Perguntou-se como não tinha se dado conta até aquela semana. Agradeceu a Deus por ter esbarrado com eles na segunda-feira, não fosse a proximidade daquele dia e a lembrança dela por seu aniversário, talvez continuasse negando a si mesmo.
                Sorriram através do vidro e Lucca abriu o som para o estúdio, usou o microfone preso à mesa para falar com ela.
                _E ai, tudo bem ficar num lugar tão fechado? – Anelyse riu confirmando com a cabeça, o ouvia através do fone – Você pode falar no microfone que eu escuto.
                _Tudo bem. – a voz dela saiu alta nos alto-falantes fazendo ele dar um pulo e ela rir divertida do outro lado. Rapidamente Lucca abaixou o volume e fez um sinal para ela testar o volume novamente – Alô, som, teste, som... – ela começou mas logo riu parando de falar por um momento – Eu odeio testar o som. – informou.
                _É constrangedor, não é? – ela confirmou – Então canta. – enquanto movia alguns botões na mesa de som, ele ergueu o olhar para analisar a reação dela.
                O rosto da menina se tornou rubro e ela usou a bombinha para passar um pouco do nervosismo, mas conhecendo bem Anelyse, apesar da timidez inicial, aceitaria o desafio. Poucos segundos depois iniciou uma melodia calma, ele não reconheceu a música, mas a afinação dela era quase perfeita. A voz saia tremida no inicio da nota e limpa ao final e após um minuto ela já fluía naturalmente, sem alguma falha. Lucca fez sinal para ela continuar, retirou o violão do suporte, ligou com um cabo na mesa de som e começou a dedilhar, primeiramente deixando o som apenas no estúdio, tentando acompanhar o ritmo e a melodia criada por Anelyse. Sorriu ao descobrir o tom de imediato, a voz dela era mediana, não muito fina e fora fácil acertar, em seguida os acordes vieram sozinhos, como se ele conhecesse o que viria depois.
                Anelyse voltou ao inicio da melodia e ele a seguiu, ela começava suavemente como um sopro de vida, poucos compassos a frente ganhava corpo, um fôlego a mais e facilmente identificou o refrão que não passava de quatro compassos, possivelmente duas frases curtas se houvesse uma letra.
                Ela puxou o ar para reiniciar quando ele apertou o botão para que o som do violão fosse para os fones dela, em seguida ligou a tela do computador que estava apenas no descanso e apertou o play para gravar. Quando ouviu que ele iniciou a melodia, o encarou surpresa e com lágrimas nos olhos, para o espanto dele, ao invés da melodia, ela cantou a letra.

Cansado estou de procurar
Alguma forma de te alcançar.
Tão diferentes, mas no mesmo lugar
O que nos uni faz-nos afastar.

Quero gritar ao mundo esse amor
mas não tenho voz! Não tenho voz!
Não tenho voz...

                O rapaz a encarou quando ela voltou a fazer apenas o som com a boca, não havia mais letra alguma, por algum motivo ele sentiu-se parte daquela música, era como se dissesse sobre o que sentia e fosse calado, exatamente como Lidia o fez se sentir por todo aquele ano. Inútil e sem voz.
                Finalizaram a música juntos e Lucca desligou o aparelho e parou de dedilhar o violão.
                _Linda essa letra, você que escreveu?
                _Foi, como sabe? – a voz dela soou pelos alto-falantes. Ele deu de ombros para a pergunta.
                _É sobre alguém que você gosta? – perguntou inseguro e ela confirmou ficando com o rosto em chamas – Quer me contar sobre a letra? – ela fez que não – Por que não?
                _É particular.
                _E não tem mais nada nessa letra?
                _Não, não consegui escrever mais. E acho ela boba.
                _Não achei boba, talvez com alguns ajustes ela fique mais forte. Mas é boa. E sua voz é incrível.
                Ele ligou a gravação deixando que ela ouvisse, Anelyse arfou com a surpresa e o encarou assustada, pois não desconfiou que seria gravada. Ele deixou o violão sobre a cadeira que estava sentado e entrou na salinha de captação, a virou para si e encostou o tronco no dela, que foi obrigada a aceitá-lo entre as pernas. Ela encarou os olhos dele sem dizer nada, devagar ele retirou os fones do ouvido dela, pendurou no pedestal do microfone e devolveu o olhar, sorrindo.
                _Acho que tenho que ir. – sussurrou temerosa.
                _Por que você tem medo de mim?
                _Dois motivos. – sussurrou, mas tinha um sorriso nervoso.
                _Quais?
                _Você é pegador – ele fez uma careta – e você disse que não quer algo sério comigo.
                Ele franziu a testa e começou a rir.
                _Que eu era pegador eu admito, gosto de sair, aprontar... mas que não quero algo sério com você? Quando eu disse isso que não me lembro?
                Havia notado que ele falou no tempo passado, que não era mais um rapaz que ficava com todas as meninas, e intimamente sorriu com aquilo. Respirou fundo voltando a realidade para responder.
                _Quando disse que não queria dormir comigo.
                Lucca gargalhou jogando a cabeça para trás, em seguida a beijou de novo, pegando Anelyse de surpresa.
                _Você devia ficar feliz por eu dizer isso... ou você quer ir para a minha cama? – o olhar e o tom eram maliciosos, e fizeram Anelyse fechar as pernas que se chocaram no quadril dele. Apenas para provocar ele colocou a mão na coxa dela por sobre o vestido e ficou alisando – Quer?
                _Não, agora não. – sussurrou.
                _Agora não? Então você quer?
                _Não! – disse convicta – Não sou qualquer uma.
                _Disso eu tenho certeza. – Lucca parecia se divertir ao constranger a garota, Anelyse respirava devagar para não ficar com falta de ar na frente dele novamente – Não quero dormir com você. – falou novamente e ela fez uma careta de desgosto – Não com você pensando que vou sumir depois. Nem com você pensando que te comparo a qualquer uma. – ficou mais sério e ganhou a atenção dela – Não vou te tratar como tratei todas as outras, Anne. Se não reparou, já não te trato como a elas. Nunca trouxe ninguém aqui e nem tive vontade. Nunca admiti estar com nenhuma delas, nem mesmo a Lidia ou você me viu andando com ela de mãos dadas em publico alguma vez? – ela pensou e se deu conta que não, nunca os vira realmente juntos, eram raros os momentos de troca de carinho entre eles, então negou – E o que fiz com você hoje? Na minha casa e na minha festa?
                _Segurou a minha mão... – a voz não passou de um sussurro tímido.
                _E te beijei. Te defendi. Tirei aquela infeliz de dentro da minha casa. Você acha mesmo que você é só mais uma?
                Se encararam por um longo tempo, Anelyse não conseguia raciocinar e tudo parecia certo, ele parecia perfeito como sempre imaginou e era mais que um sonho estar ali, com ele e a sós, mas o medo gritava dentro de si, por isso resolveu ser sincera como sempre foi.
                _Até segunda-feira você nem me notava e na primeira oportunidade me deixou plantada, sozinha. Não me deu direito a defesa. Acho que é natural que eu tenha medo.
                _Eu errei. Anne, nunca me apaixonei por ninguém, fiquei cego de ciúmes e depois de culpa, porque por mais que eu não assumisse a Lidia, todos sabiam de nós e não sou totalmente canalha. Não totalmente. – sorriu de lado fazendo Anelyse suspirar.
                _Culpa pelo que?
                _Por ela. Por você. Ou acha que não pensei durante esse tempo todo que vocês são amigas?
                _Pensou mesmo em mim em algum momento?
                _Talvez sim... na verdade sim. – admitiu – Mas eu era como toda aquela gente na minha casa, vivia de aparências, queria apenas status, ser invejado e só assumi esse sentimento quando não consegui mais suportar ficar longe de você.
                Ela mordeu o lábio receosa, tinha os olhos marejados e já não se importava com a proximidade.
                _Então... você não quer dormir comigo, e quer o que de mim?
                Lucca riu do modo ingênuo que ela falou. A música que gravaram já havia parado de tocar nos fones. Ele se inclinou falando bem perto dos lábios dela.
                _Quer ser minha namorada?
                _Ai meu pai vai me matar! – ela gemeu e ambos riram.
                _Isso é um sim? – perguntou exuberante, olhando nos olhos da mulher.
                _É! É um sim! Eu seria louca se negasse. – o abraçou com vontade, sentindo os corpos se fundirem no abraço. O encaixe era perfeito o que a deixou ainda mais apaixonada.
                _Então vamos marcar um almoço para eu conversar com seus pais e oficializar, tudo bem?
                _Tudo a moda antiga? – riu baixinho, dando beijos no rosto dele.
                _Tudo a moda antiga.
                Ficaram por mais alguns minutos dentro do estúdio, curtindo o momento, esquecendo-se do mundo; foram despertos pelo celular dela vibrando dentro da bolsinha. Lucca pegou a bolsinha dela do chão e entregou a menina.
                _Alô?
                _Onde você está? – era a voz de Luiz o pai de Anelyse.
                _To no estúdio... pai... – Lucca arregalou os olhos e olhou no relógio, passava das quatro da manhã.
                _Quero você em casa em dois minutos. – desligou.
                _Ele vai me matar! – gemeu.
                _Me desculpa Anne, esqueci da hora... me perdoa? – ele a beijou carinhosamente enquanto a ajudava a descer do banquinho.
                Desligaram as luzes e correram para a saída do prédio onde o carro estava estacionado. Por causa do frio antes de saírem ele retirou a camisa de flanela e colocou em Anelyse, pareceu cobrir quase todo seu vestido, mas ficou feliz em vê-la em sua roupa, dava uma sensação ainda maior de pertencer a ela. Ficou apenas com a regata branca que estava usando por baixo da camisa. Assim que se ajeitou no banco, ele se virou para ela, tinha um sorriso enorme no rosto apesar de estar nervoso dela levar bronca.
                _O que foi? – ela riu constrangida com o olhar.
                _Quero te beijar. – sussurrou.
                _E precisa pedir permissão para a sua na-mo-ra-da? – ela fez questão de pausar cada silaba e sorriu.
                Não houve tempo de respirar, logo os lábios dele tomaram os dela, o frio no estomago a fez estremecer inteira. Levou a mão ao ombro dele, sentindo a pele nua e deslizou lentamente até a nuca e o puxou para si. Lucca arfou com a insinuação e o beijo que estava calmo se tornou intenso, ardente. As sensações adversas fizeram Anelyse perder o fôlego e empurrá-lo para retomar o ar, ele a encarou com um sorriso satisfeito nos lábios. Ela tinha as bochechas rosadas e o lábio inferior inchado como de quem beijou por muito tempo.
                _O que foi? – questionou constrangida, ele a beijou novamente e ligou o motor.
                _Você é a minha perdição, menina.
                _Por que? – ela tinha um sorriso nos lábios quando a encarou. Começou a dirigir com pressa pois não queria estragar aquele momento para eles, com uma bronca que certamente ela levaria.
                _Porque jurei nunca mais me envolver... e olha o que fez comigo. Estou até namorando! – riu.
                Ela colocou a mão pequena na nuca dele e afagou os cabelos, sentia o corpo tremulo pela coragem de erguer a mão e colocar ali, mas ficou feliz por não ser rejeitada ao contrario, Lucca ainda ronronou baixinho, movendo a cabeça para que ela fizesse algum carinho.     
                _Por que jurou não se envolver?
                _Um dia eu te conto, princesa. Prometo.
                _Você já tem três coisas para me contar.
                _Ah é? Quais? – ele ria para ela, a visão daqueles olhos esverdeados brilhando de felicidade a deixou extremamente feliz. Lembrou novamente de que só o via assim quando estava tocando.
                _Sobre a Lidia não ser minha amiga, sobre porque me chama de princesa e sobre porque não se envolveria.
                _Memória boa. – ele fez carinho na perna dela – Você está gelada, Anne. – tocou o rosto dela em seguida e suspirou, estavam na esquina da casa dela – Meu amor, vamos fingir que somos amigos até eu falar com seu pai? Acho que ele é capaz de me matar.
                Rapidamente Anelyse retirou a mão da nuca dele e ele se endireitou no banco, o homem estava na frente da casa com os braços cruzados, a sorte é que não viu que ela estava com a mão na nuca dele ou a reação seria muito pior. Assim que estacionou, Lucca se apressou a sair do carro e abrir a porta para ela. O homem aguardou paciente até que ele fechasse a porta e Anelyse estivesse a seu lado. Pegou no braço do rapaz e o prendeu contra o carro, o abdomem na lataria e o rosto proximo do capô.
                _O que fez com a minha fiha?
                _Para paiiii! – ela gritou quase chorando.
                _Nada, senhor. Não fiz nada.
                _E porque a entregou as cinco da manhã?
                _Perdemos a hora senhor, não vai se repetir senhor. – Lucca tinha o tom firme e temeroso, não queria parecer petulante e estava morrendo de medo, pois não enfrentara o pai de ninguém desde seu primeiro namoro – Prometo. – acrescentou.
                Luiz soltou o braço de Lucca que estava torcido nas costas e encarou Anelyse.
                _Para dentro.
                _Mas pai...
                _Agora.
                Ela olhou para Lucca com um olhar pesaroso, havia vergonha ali também, acenou e entrou na casa em silêncio.
                _Senhor, ela não teve culpa... – começou, mas o homem o calou com o olhar.
                _Ela é menor de idade, você sabe disso?
                _Sei sim senhor.
                _E sabe que se a magoar eu mando te jogarem na prisão mais imunda dessa cidade?
                _Tenho certeza disso senhor.
                _Espero que se lembre quando quiser colocar suas mãos nela de novo.
                Quando ia se virando para entrar, Lucca pigarreou.
                _Seu Luiz... me desculpe realmente pelo horário, acreditei que Anelyse tinha os mesmos privilégios do irmão e não vi a hora. Ela realmente não teve culpa.
                _Está questionando as regras que imponho aos meus filhos? – o homem nem se virou ao perguntar.
                _Claro que não! – Lucca passou a mão no rosto e gemeu contrariado, tudo o que pensava em dizer para não piorar a situação parecia piorar ainda mais.
                _Ainda bem. – ele se virou e encarou Lucca por um tempo – O que quer com a minha filha, moleque?
                _Namorar, senhor. – não desviou o olhar, mas a voz saiu tremula pela primeira vez em sua vida.
                Luis fechou o cenho e fez um sinal para ele ir embora.
                _Quando ela completar dezoito, você volta aqui e conversamos.
                _Mas faltam dois anos!
                _Se a ama mesmo, vai saber aguardar.
                Lucca ficou olhando a porta se fechar, não teve nenhuma reação a não ser rir de nervosismo. Perguntou-se se o homem falava realmente sério, com isso entrou no carro e partiu, acreditando que ficara tudo bem para Anelyse, infelizmente estava enganado.
                _Você é alguma vadia? Mulher de rua? Prostituta?
                _Não pai! – gemeu a menina, já estava em seu quarto pronta para dormir quando ele entrou feito um furacão.
                _Isso é hora de moça de família estar em casa?
                _Mas pai... a mamãe deixou e...
                _Isso é hora? – gritou.
                _Não... me desculpe. – quando viu o homem retirando a cinta sentiu o corpo amolecer e as lágrimas descendo sozinhas por seu rosto – Pai, não precisa disso, eu entendi a lição... pai, me desculpa.
                _Vira.
                _Não pai! Não tenho mais idade para isso! – gritou.
                _Vira ou eu mesmo vou te virar. – ameaçou.  
                A contragosto ela se virou, ouviu ainda a mãe tentar intervir e Giovanni gritar com o pai, mas a pancada da cintada em suas nadegas a tirou de foco. O homem lhe deu várias cintadas, usando toda a força que podia no braço, não queria uma filha no mundo voltando grávida quando poderia estar estudando, sendo alguém melhor do que ele foi por ter engravidado a mulher tão cedo. A faria entender na marra.
                Quando parou de bater as pernas, coxas e o bumbum dela estavam com vergões do tamanho da cinta e altos. Ele ainda a fez encará-lo antes de sair do quarto. Ela mal o enxergava por causa da raiva e das lágrimas.
                _Isso é para que se lembre que não criei filha minha para ser nenhuma vagabunda. Se aquele rapaz quer algo sério com você, vai ter que esperar até os seus dezoito anos. E se casar.
                Saiu batendo a porta, obrigando os outros dois a deixarem-na sozinha. Anelyse chorou copiosamente, sem nem mesmo deitar direito na cama, até desmaiar de sono.


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