Capítulo Quarto - Amor e Música


Capitulo 4

                Ao erguer os olhos de volta, não o viu mais e afastou-se bruscamente do rapaz, será que Lucca achara que tinha algo entre ela e Thiago? Resmungou baixo, puxando a mochila das mãos dele, procurando o celular nos bolsos laterais, tinha cinco mensagens não lidas, escorou-se no muro da escola se apressando para ler. A primeira fora enviada antes das oito da manhã.

                Bom dia, Anne! Luc.

                A segunda era de poucos minutos antes da saída da última aula.

                Cheguei, vou esperar a algumas casas da escola, à esquerda da saída. Bj, Luc.

                A terceira era de minutos depois.

                Seu irmão saiu e entrou de novo, vou esperar na esquina. Luc.

                A quarta era uma repetição da terceira e a quinta fez Anelyse sentar na calçada, desolada.

                Acho que seu namorado não vai gostar que passe o dia de hoje comigo. Boa tarde. Lucca.

                _O que houve? – perguntou Thiago sentando ao lado dela.
                _Me deixa sozinha. – pediu num tom não muito agradável.
                _Ei, o que eu fiz?

                Ela só estendeu o celular, deixando o rapaz ler a mensagem, ele riu e devolveu o aparelho para ela.
                _Não tem graça, ele foi embora porque viu você me abraçando.
                _Ele está com ciúmes, não percebeu?
                Ao encará-lo tinha os olhos arregalados em surpresa, se Lucca estava com ciúmes havia uma chance remota dele realmente gostar dela. Se levantou sem nada dizer, se aproximou de Giovanni procurando nos bolsos dele por seu celular.
                _Que isso, você ta me apalpando! – todos riram, incluindo ela – O que quer com meu celu... volta aqui! – Anelyse se distanciava com o aparelho na mão, digitando uma mensagem.
                _Só vou mandar uma mensagem, ta? – olhou para Giovanni que devolveu um olhar desconfiado.
                _Para quem?
                Tentou pegar o aparelho, mas ela foi mais rápida puxando-o de volta, não precisava olhar o numero, pois já tinha decorado, assim que a mensagem foi enviada, deletou da caixa de saída e devolveu o aparelho ao irmão.
                _Obrigada maninho! – se esticou e deu um beijo na bochecha dele. Como continuou a encarando ela completou – Para o Lucca.
                _Você não vai sair com ele.
                _Para de ser tão protetor, você não precisa ser chato como seu pai. – retrucou Thiago ao se aproximar deles – Deixa sua irmã decidir por si própria.
                _Ele é muito velho para ela.
                _E você muito velho para a Letícia, mas eu nunca te disse para não sair com ela! – Anelyse viu o rubor nas bochechas de Giovanni. Ele fez um sinal de que ela venceu e se afastou junto com Thiago, que piscou para ela.
                Letícia era uma menina de apenas treze anos, também estudava na escola de Artes, fazia designer e dança, Giovanni e ela viviam grudados e saiam costumeiramente, ele dizia que não acontecia nada entre eles, que era apenas amizade, mas apenas Anelyse tinha conhecimento do quanto estava apaixonado por ela.
                A mensagem que enviara a Lucca dizia o seguinte: Ele não é meu namorado, estou te esperando, Anne.
                E foi o que ela fez, se sentou na entrada da escola, vendo todos os alunos desaparecerem indo de volta para suas casas ou empregos, até ficar praticamente sozinha. Os minutos se passavam e logo formaria uma hora inteira que estava esperando por ele, no celular não havia resposta alguma sobre não retornar ou pedir que o esperasse, desistente ela se levantou, seguindo para o ponto de ônibus.
                Usou a bombinha de tratamento naquela manhã antes de saírem, por isso não sentia tanta falta de ar como no dia anterior, jogou a mochila nas costas e ouviu passos a seguindo, quase sorriu imaginando ser ele, mas ao se virar se deparou com Sandra.
                _Ele não veio? – perguntou. 
                Anelyse a encarou tentando descobrir onde a amiga esteve todo esse tempo, mas nada disse apenas negou com a cabeça e se despediu, não estava com animo para conversar ou explicar coisa alguma, sentia um nó na boca do estomago e uma vontade louca de chorar. Dizia a si mesma que ele queria apenas uma desculpa para se desfazer do convite dela e havia encontrado uma em Thiago. Ela devia realmente dar ouvidos aquelas garotas, ser gorda a estava atrapalhando de verdade. Decidiu naquele momento que seria magra, que faria de tudo para ser magra.

                Alguns dias se passaram desde que ele a deixara na porta da escola, era noite de sexta-feira, o dia da festa de aniversário de Lucca. Anelyse estava sentada na laje de sua casa, olhando o sol de pôr e lendo um de seus romances preferidos chamado Amor no Ninho de uma escritora brasileira. A história era triste no primeiro volume da série e a fazia se sentir melhor dentro de sua realidade.
                Gostava de afogar suas magoas na leitura, era melhor do que esperar uma mensagem dele, coisa que não havia recebido nos últimos quatro dias. Não chorava mais e não tentou contatá-lo depois do ocorrido, pois acreditava que era ele que estava agindo com infantilidade, portanto deveria procurá-la. Porém aquele último raio de sol no horizonte a fazia se lembrar do convite: que a buscaria para participar de sua festa de aniversário.
                Suspirou e fechou os olhos, não queria chorar de novo, queria manter o foco. Em três dias já tinha emagrecido dois quilos, a amiga Sandra estava abismada com a rapidez que o corpo de Anelyse respondia a dieta. Ela comia apenas verduras e legumes e muito chá e água para não reter líquidos. Sandra decidira fazer o mesmo regime e emagrecera apenas gramas. Estava feliz com o resultado e sentia um pouco de diferença na disposição física, com dois quilos a menos já conseguia subir as escadas para o seu quarto sem sentir muita falta de ar, ficava pensando como seria quando chegasse a seu peso ideal, trinta e cinco quilos a menos, talvez até pudesse aposentar a bombinha.
                _Anne? – chamou alguém da escada, ela apenas ergueu os olhos do pôr do sol para a entrada da laje, era sua mãe.
                _Aqui mãe. – chamou para que a mulher a visse atrás da caixa d’água.
                A laje era estreita do tamanho da casa, o piso de cimento, áspero e cinza, em um canto coberto por uma lona estava o varal onde a mãe costumava pendurar as roupas para secarem e encostados à parede alguns materiais de pedreiro. A caixa d’água ao centro, atrapalhando o caminho.
                _Seu pai foi convidado pelo pastor para jantar na casa dele e da esposa, eles tem alguma coisa importante a dizer a ele. Quer ir conosco?
                _Não mãe, mas obrigada pelo convite. Sabe o que eles querem com o papai?
                _Não, mas seu pai acha que lhe darão algum serviço.
                A garota sorriu tentando parecer feliz, Marta a beijou na bochecha se despedindo.
                _Vai com Deus, mãe.
                _Amém.
                Observou a mulher sumir pelas escadas e voltou os olhos ao horizonte, o azul do dia dava lugar ao cinza noturno de São Paulo. Um vento fino cruzou seu corpo a fazendo estremecer, levantou dobrando a cadeira de praia – que possuíam, pois quando era mais nova, costumavam ir à praia uma vez por mês com os avós paternos – a encostou na caixa d’água e seguiu o mesmo caminho da mãe.
                Entrou no quarto e como fazia todos os dias, foi direto ao celular que estava carregando a bateria, ao tirar o aparelho do conector, sentiu o estomago gelar e mil borboletas voando dentro dele, havia uma mensagem de texto enviada por Lucca há quase uma hora. Ela fechou a porta do quarto, se sentou na cama e respirou bem fundo antes de ler.

                Sei que fui um idiota e espero honestamente que me perdoe, mas hoje a única coisa que eu realmente queria, é a sua companhia. Posso te buscar?

                Não havia assinatura dessa vez. Ela já sabia que a resposta seria sim, só não sabia como responder, já que Giovanni a convencera de emprestar o dinheiro da passagem para ir a festa e por isso não estava em casa. Pensou em ir ao mercadinho da dona Marta, mas não queria olhar para a atendente de novo, saiu do quarto descendo as escadas para o andar de baixo, seus pais já haviam saído. Olhou para o telefone fixo torcendo para a conta estar paga e poder fazer uma ligação. Jurou que pagaria quando a conta chegasse.
                Discou o numero e esperou, o som de bip soou três vezes antes do celular ser atendido.
                _Alô?
                A voz era feminina fazendo Anelyse engasgar antes de responder.
                _O... é... o Lucca por favor?
                _Quem é? – o tom era desconfiado e pelo timbre de voz ela teve certeza que era Lidia do outro lado da linha.
                _Lidia?
                _Sim. Quem quer falar com o meu namorado? – insistiu enciumada.
                Anelyse ficou com medo de responder e desligou o telefone, só depois de fazê-lo pensou que poderia deixar Lucca com problemas. Resolveu ligar de novo e assim que ouviu a voz da amiga disparou a falar.
                _Caiu a ligação Lid, é a Anne. É que eu precisava falar uma coisinha com o Lucca. – tremia tanto que não sabia se a outra a ouvira direito, havia um barulho muito alto ao fundo, Anelyse imaginou que fosse da festa.
                A garota respirou fundo do outro lado e quando falou parecia estar sorrindo.
                _Ah Anne, você me matou de susto! Não sabia que era amiga do Lu. Ele não está, saiu a pouco e esqueceu o celular comigo, mas se quiser dou o recado.
                _Não precisa, obrigada, não era nada importante.
                _Tudo bem. Beijinho.
                E desligaram. Anelyse se sentiu frustrada, tanto por não falar com ele como por ter certeza que ele não estava solteiro. Devolveu o telefone ao gancho e decidiu voltar para a laje afinal lá era silencioso o que ajudaria a pensar um pouco, antes passou no quarto e trocou o short por uma calça jeans que estava começando a ficar larga, uma camiseta branca e a jaqueta jeans combinando, não iria sair, mas estava frio e sabia que o irmão provavelmente levaria algum de seus amigos para dormirem em sua casa depois da festa, portanto não poderia desfilar de pijama pela casa.
                Voltou à solidão da laje, agora o céu estava pontilhado de estrelas foscas e nuvens pesadas por tanta poluição. Recostou-se na cadeira de praia com o livro sobre a barriga e fechou os olhos, pensando se Lucca pretendia conversar ou fingir que terça-feira não aconteceu. Queria entender porque ele foi embora a fazendo esperar por quase duas horas na frente do colégio, pois só foi embora depois que Sandra a deixou partir.
                Aqueles poucos dias tinham sido os mais tristes desde que conhecera o rapaz de olhos vivos, pois nunca esteve tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Antes sabia que ele era intocável, que não era para ela, agora tinha certeza disso, que esse amor era impossível, por tantos motivos que já não se preocupava em enumerá-los. Ser amiga da namorada dele devia ser o suficiente para se afastar, mas fora insistente e agora estava terrivelmente arrependida. Era mais fácil sentir saudade de um cavaleiro irreal, do que do homem real que tivera o prazer de conversar por dois dias.
                Respirou fundo limpando o rosto das lágrimas, achava que não tinha mais o que chorar, mas havia se enganado. Passou um bom tempo pensando na vida e tentando ler a mesma frase no livro, porém sem conseguir se concentrar, acabou adormecendo.

                _Ela deve ta no quarto dela, vou lá chamar. – disse Giovanni para Lucca que, passou as mãos na nuca porque estava nervoso por não saber o que dizer a ela.
                _Ta bom. Obrigado.
                _Senta aí, fica a vontade.
                Sentou no sofá azul da sala, mas não conseguia permanecer parado, então levantou de novo. Estava nervoso como se a esperasse para um encontro, ansioso por aquele contato, por pedir desculpas frente a frente. Fora complicado convencer Giovanni a deixá-lo visitar sua irmã, que o fizera declarar um juramento de que não faria sua irmã chorar ou o mataria pessoalmente. Sem pestanejar Lucca repetiu as palavras, tentando não rir do exagero do rapaz.
                Ouviu um barulho e se sentou para disfarçar o nervosismo, mas Giovanni apareceu sozinho.
                _Ela não ta lá, mas acho que ta na laje, vou chamar.
                _Posso ir até lá? – perguntou Lucca levantando-se.
                _Pode. A entrada é pela cozinha, é só subir pela escadinha de fora, não tem erro. Vou dar dez minutos a vocês. – e riu.
                _Valeu, mas não se preocupa que não vou fazer nada com ela.
                Na verdade o que Anelyse tinha dito a Giovanni sobre Letícia o havia feito mudar, agora compreendia o amor dela por Lucca e aceitava com mais facilidade que um homem mais velho gostasse de sua irmã. Não que ficasse feliz em saber disso, mas não estava com tanta raiva. Levou o amigo até a entrada da laje e o deixou subir.
                Antes de dar o primeiro passo Lucca respirou fundo, depois subiu os degraus, estava mais nervoso do que jamais estivera em toda sua vida, os dias em que se obrigou a afastar-se dela haviam sido os mais difíceis para ele, que acreditava estar agindo corretamente. Quando saiu da escola, mesmo enciumado, pretendia retornar com o carro para levar Anelyse ao passeio, porém recebeu uma ligação de Lidia falando que queria passar o dia com ele, que sentia falta, que precisavam conversar. Enviou uma mensagem para a menina avisando que não voltaria à escola, mas não soube que essa mensagem nunca chegou.
                Levaram quase três dias para entrarem em um acordo, terminaram o namoro decidindo serem apenas amigos, mas Lidia não o deixava em paz, querendo entender seus motivos. Cismou que havia outra no coração de Lucca, mas ele estava decidido a não revelar, achou que o melhor a fazer era voltar a sua rotina normal, sem pensar em Anelyse, sem desejar levá-la e buscá-la na escola, sem se sentir um bobo apaixonado, afinal ela ainda era uma criança.
                O que ele não esperava era que sentiria mais falta dela do que sentiu por todo aquele ano, por isso mais cedo, quando Giovanni foi para a casa dele a seu pedido, chamou o amigo e confessou tudo. O que sentia por Anelyse, que não era de dois dias atrás mas um sentimento de mais de um ano, explicou como se sentia por causa da idade, mas omitiu que também não ficava a vontade por ela estar acima do peso, não queria parecer tão fútil. A conversa unira ainda mais a amizade deles e Giovanni lhe contou sobre Letícia. Agora tinham algo em comum, algo a partilhar.
                Lucca estava encarando as escadas enquanto pensava, foi preciso Giovanni lhe dar um empurrão para ele ter coragem e terminar de subir, olhou em volta sentindo o vento gelado que batia ali e se encolheu um pouco.
                _Anne? – chamou não notando a cadeira atrás da caixa d’água.
                Como ela não respondeu foi andando pelo ambiente, observando o lugar com olhos curiosos e temerosos, porém agradecido pelo ambiente mais intimo apesar de ser ao ar livre. Tinha certeza que ali seria um ótimo lugar para se desculpar. Rodeou a caixa d’água e se deparou com ela, deitada de lado na cadeira de praia, os olhos fechados e ressonando como um bebê. Se sentou no chão ao lado dela, notando que haviam lágrimas secando abaixo de seus olhos e nas bochechas, quis chamar mas uma lágrima rolou sozinha, despencando na cadeira.
                _Anne? – chamou de novo, tocando levemente seu rosto, estavam tão próximos que sentia o calor emitido pelo corpo dela e a respiração batendo fraca em seu rosto.
                Limpou as lágrimas vendo outras deslizando, ela estava com o ar sereno e ao mesmo tempo com um vinco nos lábios, mas parecia dormir. Ele sentiu uma dor aguda no peito, ao ver que a fazia chorar até adormecida, logo corrigiu o pensamento ao se lembrar do rapaz na escola, poderia muito bem ser por ele que ela chorava.
                Ficou em silencio limpando as lágrimas dela, não se importava mais com a aparência física, mas nem havia se dado conta disso, só queria ver a menina bem, feliz, esboçando aquele sorriso mágico que ele tanto amava, o sorriso de quando eles se olharam da primeira vez.
                Continuou com os dedos atrevidos pelo rosto dela, dedilhando delicadamente a face rosada, o polegar chegou aos lábios e o olhar dele se prendeu ali, nem notando que Anelyse havia despertado. Ficou paralisada olhando para ele, sentindo as caricias até ele chegar a seus lábios, os entreabriu para falar mas tremia tanto que ele ergueu os olhos encontrando os dela. Se levantou bruscamente, afastando-se.
                _Des... culpe. – gaguejou.
                Ela se sentou tão bruscamente quanto ele.
                _O que faz aqui? – olhou em volta emendando – E como entrou na minha casa?
                _Seu irmão me trouxe. – ambos se encaravam envergonhados, porém Anelyse sentia a mente perdida por causa dos toques dele – Desculpa acordar você, é que... eu... enfim... só vim porque queria te pedir desculpas.
                A garota demorou um pouco a ordenar os pensamentos, observou Lucca em silêncio o analisando. Ele estava lindo, havia cortado o cabelo, estava liso na altura do queixo, estava usando uma camisa xadrez de flanela, mas que nele não parecia desengonçada como ficaria em seu irmão, o tom azul escuro com branco e preto. A camisa estava por cima da calça jeans clara e usava sapato social preto.
                O silencio o incomodou, por isso se aproximou ajoelhando à sua frente, pegou as mãos dela entre as suas antes de começar a falar.
                _Olha, eu fui um idiota. Não devia ter desmarcado nosso passeio só porque a Lidia me ligou.
                _Você me deixou plantada na frente da escola esperando porque saiu com a Lidia? – os olhos de Anelyse marejaram – Podia pelo menos ter me avisado, assim eu teria ido para casa ao invés de ficar lá que nem uma boba te esperando. No frio.
                _Mas eu avisei... me desculpe Anne, agi sem pensar.
                _Avisou quando que eu não ouvi? – quando ficava brava tinha a tendência de aumentar o volume de voz.
                _Mandei mensagem depois que você disse que me esperaria.
                _Não recebi nenhuma mensagem. – desacreditou e ele notou isso nos olhos dela.
                Abriu o celular procurando a pasta onde guardava as mensagens que enviava para ela, Anelyse esticou a cabeça olhando por sobre a mão dele. O nome da pasta estava nomeada como princesa a deixando apreensiva. Rapidamente Lucca encontrou a mensagem, virou o celular para ela mostrando a data e a hora enviada – onze de agosto as treze e vinte e seis. A mensagem dizia: Houve um imprevisto, não poderemos sair. Se cuida. Lucca.
                _Mandei, viu?
                _Não recebi... – ela murchou na cadeira – E seu imprevisto se chamava Lidia. – resmungou baixinho.
                _Então você ficou me esperando? – guardou o celular no bolso da camisa e voltou a olhá-la.
                _Humrum. Achei que você não quisesse falar comigo por causa do idiota do Thiago.
                _Me perdoe, agi errado Anne, por isso estou pedindo desculpas. Tentei ficar longe de você, mas foi mais difícil do que eu imaginava, foi horrível. – ela franziu a testa sem entender bem porque ele estava dizendo aquilo – Você podia ser dois anos mais velha, não? – brincou.
                Estava ajoelhado à frente dela e Anne sentada na cadeira de praia com as pernas para fora e os cotovelos apoiados em seus joelhos. Ele a envolveu pela cintura com os dois braços encostando a cabeça no antebraço da garota.
                _Por que quer que eu seja mais velha?
                Ele deu de ombros, mas sentiu que ela tremia, afastou-se se sentando no chão e apoiou os braços em seus joelhos erguendo os olhos para encará-la.
                _Me perdoa por ser um idiota?
                _Talvez. – ela sorriu de lado.
                _Qual é a condição?
                _Não fazer mais isso.
                _Não desmarcar as coisas?
                Ela negou lentamente, mordendo o lábio.
                _Não ir embora sem conversar e entender o que está acontecendo. Isso quem faz é uma criança e você tem idade para se comunicar.
                _Ai, essa doeu. – ele riu sem graça – Não sei porque fui embora daquele jeito. Aquele cara é seu namorado?
                _Você não prometeu.
                Os dois sorriram, ele assentindo lentamente e ela aguardando a promessa.
                _Prometo que vou agir como adulto, esperar e conversar se algo me desagradar de novo. Está bom assim?
                _Melhor impossível. – sorriu – O Thiago é amigo do meu irmão, nunca conversou comigo, mas acho que essa semana é a semana do “tenha dó da gordinha”, porque todos os populares resolveram falar comigo, sem mais nem menos.  
                Anelyse nem havia notado a forma que referiu a si mesma, mas Lucca sim e sentiu um aperto no peito, pois via claramente como a atitudes das pessoas a faziam se sentir inferiorizada, a das pessoas e dele próprio.
                _Não fala assim de você mesma. – ralhou com ela, mas ela deu de ombros – Mas esse cara estava te agarrando. – usou um tom neutro para não demonstrar ciúmes.
                _Ele estava falando de você. Ele tem essa mania de pegar nas pessoas, não sei porque é assim, mas não tenho nada com ele, nem quero.
                _Entendi... o que ele falou de mim?
                _Que você ia se apaixonar por mim. – depois de falar ela sentiu as bochechas pegando fogo e o estomago revirando de nervoso, Lucca ficou da mesma forma, mas ela não viu, não ousou olhar para ele – Quero dizer... porque ele achou que eu estava bonita, ai disse que por isso você ia ficar gamado. Alguma coisa do tipo.
                _Você estava bonita. – ele não tinha visto o rosto dela maquiado, porém sempre a achara bonita, mesmo sendo uma menina ainda e estando acima do peso.
                _Ahh então você se apaixonou! – brincou com ele, mas logo se arrependeu. Tinha esse costume de tirar sarro das situações, tornar tudo uma brincadeira, era uma forma de defesa, de se fazer divertida já que não se achava tão bonita. O que ela não esperava é que ele responderia.
                _Sim.
               

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