Capítulo Décimo Primeiro - Amor e Música


Capítulo 11

                Era hora de Luiz voltar para casa, descobriu porque os colegas do bar lembraram de um jogo da final do campeonato de futebol. Ele pediu água com gás bem gelada e bebeu em um único gole para despertar do quase porre; pagou a conta e saiu na direção de casa.
                A rua estava deserta e parcialmente escura quando atravessou. Ouviu a buzina de um carro e o derrapar dos pneus e nem assim se deu conta que quase fora atropelado. O motorista praguejou até ver quem era. Estacionou no meio fio e correu até Luiz sendo seguido por uma garota.
                ― O senhor está bem, Sr Luiz? – questionou ao alcançá-lo.
                ― Est-tou ótimo pirralho, me solta. – mas ninguém havia colocado a mão nele.
                Anelyse se antecipou, jogou o braço do pai sobre seus ombros e começou a levá-lo em direção da casa.
                ― Vamos papai. – murmurou constrangida – Luc estaciona lá em frente e avisa meu irmão, por favor? – pediu sem olhá-lo.
                ― Aviso. – ele queria ajudar, mas não sabia como, por isso obedeceu ao pedido.
                ― Me larga. – dizia o pai enrolando a língua e trançando as pernas, a água com gás não surtira muito efeito sobre seu estado.
                ― Papai por favor... O senhor não fica com vergonha de beber desse jeito?
                ― Bebo para ficar sóbrio.
                ― O que? – estavam na esquina e ela viu o irmão correndo na direção deles.
                ― Sóbrio, sua porca burra. Sóbrio porque a vida já me deixa embriagado.
                Lucca ouviu e trincou o maxilar para não bater no homem, Anelyse porém se manteve firme até Giovanni escorar o pai e carregá-lo para dentro. Acompanharam o irmão e ela não olhou para o namorado até eles sumirem porta a dentro, em seguida se virou, ainda estavam na frente da casa.
                ― Não queria que você visse isso.
                ― Não me importo, quero que você esteja bem e com ele desse jeito, não confio muito em te deixar aqui. – dizia enquanto colocava uma mecha de cabelo para trás da orelha dela.
                ― Vou ficar bem, logo ele cai no sono. – Anne tinha a voz embargada, mas estava firme em seu tom para não chorar na frente do rapaz. Odiava se sentir tão fragilizada na frente das pessoas, pois já era considerada frágil por causa do problema de asma – Ele não é assim, é amoroso, é um pai muito bom para mim... deve estar perturbado com algo. – confidenciou olhando na direção da casa.
                ― Sempre ouvi falar muito bem do seu pai, mas ele está descontrolado Anne.
                Tinha os olhos ainda na casa quando falou novamente.
                ― Vou ajudar minha mãe, ta? Obrigada pelo dia perfeito de hoje.
                O envolveu em um abraço, apertando-o como pode e o beijou no peito, suspirando baixinho, ao se soltarem ela correu para dentro, pois estava a ponto de desabar. Não o ouviu quando sussurrou que a amava.
                Lá dentro o caos estava instalado. Seu pai jogado ao sofá gritando obscenidades, Giovanni tentando fazê-lo beber algo que ela sabia iria curar o porre e a mãe tentando acalmá-lo, sentada na poltrona próxima a ele. Anelyse se aproximou lentamente dos três, logo que trancou a porta.  
                ― Pai. – todos a olharam – Se levanta, vai tomar um banho e depois desça que o jantar estará servido. Quero o senhor sóbrio para me ouvir.
                Ela deu as costas a eles indo direto na direção da cozinha.
                ― Sóbrio? – ele gargalhava – A garota pensa que pode mandar em mim. Me larga! – puxou o braço percebendo que a esposa tentava ajudá-lo a se levantar – Sei ficar de pé. – mesmo relutantes esposa e filho o carregaram para o andar de cima e o colocaram embaixo do chuveiro.
                Anelyse gostava de cozinhar principalmente quando irritada. Retirou da geladeira os filés de frango que a mãe comprara com o dinheiro que lhe deu e começou a untá-los no ovo e na farinha, em seguida fritou-os no azeite. O arroz estava pronto e havia um pouco de feijão que ela retemperou para que ficasse mais aprazível ao paladar. Enquanto os files fritavam, ajeitou a mesa da cozinha. Lembrava-se de que dias antes o pai estava super amoroso e atencioso e até lhe dera vinte reais, não entendia a mudança brusca em suas atitudes. A lembrança dos machucados e de ser chamada de porca burra a deixou brevemente sem ar.
                O ambiente estava quente e a cozinha não era tão diferente do resto da casa, simples, porém grande com armários embutidos até o forro, uma mesa retangular de seis lugares, a geladeira amarela e de modelo antigo ao lado do fogão do mesmo tom. Nenhuma cor combinava, mas era o que podiam ter.
                ― Anne... – Giovanni entrou na cozinha, tinha o tom preocupado – você está bem? O que vai falar com ele?
                ― Ahm... não sei Gio. Não pensei quando mandei ele tomar banho, só estava brava. – confessou.
                ― Ele já vai descer, esta se vestindo.
                ― Passou o porre?
                ― Passou, mas ele continua irritado.
                ― Eu não entendo... – começou, mas foi interrompida pela mãe que fez barulho ao adentrar a cozinha junto com Luiz. O homem sentou-se à cabeceira da mesa, sisudo. Seu rosto estava vermelho nas bochechas e o olhar estreito, indicando que certamente ele começava a ter uma enxaqueca e que não seria fácil o jantar para nenhum deles – Já vou servir. – avisou falando mais alto.
                Giovanni a ajudou a colocar a comida sobre a mesa e se sentaram. Após a oração, Jucélia os serviu, primeiro o marido e depois os filhos, deixando a si mesma por último. Jantavam em silencio sepulcral, mal ouvia-se o tilintar dos talheres.
                ― Pai...
                ― Coma. – ele a cortou.
                Jucélia a encarou pedindo que não falasse nada, todos estavam tensos. A menina deixou o garfo sobre o prato e colocou a mão sobre a do pai, estava do lado direito dele e a mãe do esquerdo.
                ― Não quero brigar, só conversar. – soou carinhosa, por mais que seu sangue estivesse fervendo de raiva.
                ― O que você quer? – olhou para ela depois de gritar.
                ― Entender porque o senhor esta agindo como um louco. Estava tudo bem e de repente voltou a ser... isso! – apontou para ele.
                ― Você mereceu a correção, só faço meu trabalho de pai. Não quero nenhuma vadiazinha freqüentando a minha casa.
                ― Desde quando o senhor fala assim, pai? Vadia, vagabunda, porca burra...? O senhor está com algum problema? Quero te ajudar, mas não admito que fale assim ou encoste um dedo em mim de novo.
                O homem segurou o pulso dela e a puxou com violência para mais perto, ficando cara a cara com a filha. Estava perturbado e não via a filha diante dele, mas uma ameaça, alguém que precisava de correção. Levantou e começou a puxá-la pelo pulso, a guiando para a sala.
                ― Meu problema é uma filha que decidiu namorar sem minha permissão, que quer me enfrentar, que não sabe que o lugar de mulher é de cabeça baixa dizendo sim senhor. – o primeiro tapa foi certeiro na bunda da menina, ele a virou e bruscamente a jogou sobre suas pernas – Meu problema é fazer tudo por esta família que só sabe reclamar. – outro tapa foi ouvido. Giovanni e Jucélia protestavam, mas ele não lhes dava atenção – Meu problema, Anelyse, é você não me obedecer.
                ― Pára pai, já ta machucado! – choramingou ela, perdendo o controle e derramando lágrimas pesadas, cada tapa causava um choque que lhe percorria todo o corpo – Sempre te obedeci, e o senhor aprovou o namoro! O que há? PARA! – gritou ao sentir o quinto tapa.
                Giovanni se aproximou e segurou a mão do pai que estava quase dando mais um tapa nela.
                ― Chega. – falou brando, a raiva contida – Vou chamar a policia se você não parar.
                ― Respeito moleque, é se-nhor! – puxou a mão com violência, mas antes que pudesse voltar a castigá-la, Anelyse se desvencilhou saindo do colo de Luiz.
                Giovanni a colocou para trás dele, encarando o pai.
                ― Se é homem, então bate em mim. Vem.
                ― Não! Para Gio, ele ta louco. – soluçou Anelyse.
                ― Eu faço ficar lúcido. Vem papai. – fechou os punhos se preparando para socar o homem, que se levantou aceitando o desafio, porém antes do primeiro golpe, Jucélia ficou no meio dos dois, recebendo o soco no lugar do filho.
                ― Parem! – gritou antes de se estatelar no chão com o rosto inchando.
                Luiz voltou a si e se ajoelhou diante dela, já havia batido na esposa, mas tinha consciência desta vez de que fez algo errado.
                ― Por que foi se enfiar no meio, caralho? – esbravejou tentando obrigá-la a se levantar.
                ― Sai da minha casa. – gemeu, em seguida falou mais alto – Sai da minha casa!
                ― O que? – riu desacreditando, a colocou de pé e começou a analisar o roxo que se formava em volta do olho direito dela – Não vou sair, a casa é minha.
                ― Ou você sai ou eu denuncio você.
                Anelyse e Giovanni mantinham-se próximos a ela, mas estavam abismados com a coragem de dona Jucélia, pois nunca enfrentara o marido daquela forma. Era sempre dócil e gentil e apartando as discussões para manter o lar sempre harmonioso.
                ― Denunciar por tentar corrigir um filho? – riu de novo – Já disse, a casa é minha, eu que pago as contas desta bosta.
                ― Não mais. Saia. – ela pegou a carteira dele de cima do sofá e empurrou contra seu peito, quando ele segurou, Jucélia foi até a porta e a abriu, esperando que ele passasse por ela.
                ― Você só pode estar brincando! – gritou percebendo logo que ela falava sério – Não pode me botar para fora, eu não tenho para onde ir.
                ― Pensasse nisso antes de agir como um lunático. SAI! – gritou a última sentença.
                E ele se foi, batendo o portão ao sair.
                Anelyse e Jucélia começaram a chorar no mesmo segundo, ambas abaladas com os acontecimentos. Giovanni porém foi atrás do pai, por mais que estivesse com raiva, sabia que ele não tinha para onde ir. Viu o homem entrar no bar e pedir uma dose. Sentou ao lado dele.
                ― Pai... pede desculpas que ela deixa o senhor voltar.
                Luiz apenas o olhou com desdém e bebeu de uma vez o liquido branco que colocaram à sua frente. Giovanni balançou a cabeça e saiu, mas antes de tomar seu rumo, ouviu o pai proferir para que todos ouvissem.
                ― Nunca mais coloco os pés naquela casa, quero ver sobreviverem sem mim.
                Ele se virou para o pai e usando o mesmo tom, sentenciou.
                ― Além de ver, vai ter de admitir e pedir perdão. Se cuida pai.
               
                Horas mais tarde, todos haviam se recolhido, Giovanni decidira dormir no quarto da mãe, pois a mulher estava inconsolável e começando a se preocupar com o marido. Já Anelyse estava em seu quarto, ouvindo música e tentando decidir se ligava ou não para Lucca, queria contar que o pai saiu de casa, mas não queria perturbá-lo com isso, pois tinha certeza que começaria a chorar assim que ele atendesse.
                No celular havia três mensagens que ele enviou durante a briga, todas pedindo que se cuidasse e que ligasse se algo acontecesse, na última a despedida fora feita com um AM que ela tinha quase certeza significava: amo você.
                Assustou ao sentir o celular vibrar em sua mão de novo, quando olhou começou a rir baixinho, timidamente. No visor havia uma mensagem da operadora avisando que ela possuía vinte e cinco reais de créditos. Imediatamente ligou para ele, o agrado a faria conseguir se manter firme e não chorar. Ele atendeu no primeiro toque.
                ― Anne... – havia um sorriso em sua voz que a fez sorrir bobamente.
                ― Obrigada pelo crédito. – sussurrou – Acabei de ver as mensagens, o que é AM?
                ― Queria respostas por isso coloquei... sou ansioso Anne. – riu – Vai me dizer que não sabe o que é AM?
                ― Não faço idéia. – mentiu.
                ― Amo você. – sussurrou.
                ― Ahrá, então eu acertei. – riu baixinho e emendou – Eu amo você muito mais.
                ― Para sempre?
                ― Eternamente.
                Ambos sorriram, mas depois o silêncio durou por quase um minuto, pois nenhum deles sabia o que dizer. Anne respirou fundo e retomou a palavra.
                ― Meu pai saiu de casa.
                ― Caramba... que bom. E como você ta?
                Os olhos dela se encheram d’água, não queria isso, por mais que entendesse a atitude da mãe e ouvir ele dizer que isso era bom, a fazia se sentir culpada por pensar o mesmo. Na verdade, por mais que odiasse admitir, estava aliviada.  
                ― Não sei... Ele precisa de ajuda e não ser expulso de casa.
                ― Meu amor, de repente ele acorda para as barbaridades que fez. Você se olhou no espelho? Não sei como você não tinha nenhum osso quebrado. – suspirou pesaroso.
                ― Eu sei que ele errou, mas é meu pai... é difícil admitir que gostei dele ter ido.
                ― Quer que eu vá até ai para conversarmos?
                ― É tentador... – ela riu – Mas não, obrigada. Amanhã tenho aula.
                ― Eu sei, já coloquei meu despertador para te levar até lá.
                ― O que? – estava boba novamente, era incrível o poder que ele tinha de fazer com que sentisse que tudo estava bem – Você é doido... não precisa me levar.
                ― Preciso.
                ― Não, não precisa. Prometo que pego o ônibus e não vou a pé. – argumentou timidamente.
                ― Eu vou, já está decidido, basta a senhorita ficar pronta as seis e trinta da manhã que estarei no seu portão, à sua espera. E de seu irmão. – riu.
                ― No meu portão? – por um momento ela esqueceu que o pai não estaria lá para brigar por ele buscá-la, riu novamente – Você é doido. Mas é sério Luc, não precisa...
                ― Preciso. É uma desculpa para te ver a semana toda e não esperar até a sexta.
                ― Tudo bem então, mas só porque você precisa me ver. – ambos sorriram.
                Lucca estava deitado em sua cama, trajado apenas com uma cueca boxe preta, o braço amparando a cabeça sobre o travesseiro, olhava para o teto enquanto conversavam. Usava um fone de ouvido para não precisar segurar o celular na mão e a usava para observar uma foto do ano anterior que tinha de Anelyse. Lembrou de comentar com ela, cortando alguma frase que ela dizia ao meio.
                ― Tenho uma foto sua sabia? Preciso de uma nova...
                ― Como você pode ter uma foto minha? – riu.
                ― Ano passado nós tiramos fotos das turmas individualmente, você estava na de piano.
                ― Eu lembro... você ficou do meu lado para tirarmos as fotos, seu braço roçou o meu... – lembrou sonhadora.
                ― Isso mesmo.
                ― Você lembra disso?
                ― Anne, sempre notei você, só não sabia disso.
                ― Quero uma foto sua, eu não tenho.
                ― Sábado vamos tirar algumas, ta?
                ― Combinado... Lu?
                ― Sim?
                ― Tenho que desligar... já são mais de uma da manhã e temos que acordar daqui a pouco.
                ― Se sente melhor?
                ― Muito... obrigada pelos créditos, pela atenção, por estar comigo. Sei que não faz nem uma semana e você já passou de tudo comigo. Espero que não desista. – lamentou baixinho.
                ― Não vou desistir, amo você. Até amanhã. Bons sonhos.
                ― Bons sonhos a você também, até amanhã. Te amo.
                Desligaram e enquanto Anne se preparava para dormir em sua casa, Lucca decidiu conversar com os pais, sabia que estariam dormindo, mas havia tomado uma decisão e queria a opinião deles. Vestiu uma bermuda larga e saiu do quarto na direção da suíte ao fim do corredor, o quarto de seus pais.
                Bateu na porta cautelosamente e a abriu.
                ― Pai? Mãe? Posso entrar? – não houve resposta, apenas o ressonar de quem dorme. Ele entrou, acendeu a luz do banheiro que iluminou parcialmente o ambiente. Direcionou-se até a cama deles, rodeando-a para o lado direito onde Dirceu dormia – Pai... – tocou o ombro do homem.
                ― Hmm Luc, o que é? – foi a mãe que resmungou.
                ― Queria conversar com vocês.
                Ela ergueu a mascara blackout dos olhos e o encarou, ronronando sonolenta. Chacoalhou o marido enquanto se sentava na cama, cobrindo-se até os ombros, pois estava de camisola.
                ― Acorda, nosso bebê quer conversar. – chacoalhou novamente Dirceu, assim que ele se sentou também, voltaram a atenção para Lucca, que sentou na beirada da cama.
                ― Me perdoem acordar vocês, mas é só assim que conseguimos nos falar. – reclamou.
                ― O que aconteceu? – questionou Dirceu visivelmente grogue por causa do sono.
                ― Estou namorando.
                ― Você? – o pai riu – Não sabia que você namorada, achava que sua política era ficar com todas.   
                ― Quieto Dirceu. Que bom meu filho, quem é a felizarda? – questionou Esmeralda toda sorridente, pois torcia para que o filho se tornasse um homem direito. Não gostava dos tantos romances que ele tinha, todas aquelas meninas que ele nunca assumia.
                ― Ela se chama Anelyse mãe...
                ― E isso não podia esperar até amanhã cedo para ser contado? – resmungou Dirceu.
                ― Não... ela tem dezesseis anos.
                ― O que? – espantou-se Esmeralda – Você pode ser preso, filho.
                ― Eu sei mãe... mas ela não vai me denunciar.
                ― Pedofilia é crime somente até os quatorze anos, amor. – explicou Dirceu preguiçosamente – Mas o que os pais dela pensam disso? Eles podem alegar que você forçou a menina... é complicado namoro com menor.
                Lucca torceu os lábios, mas decidiu que era melhor dizer a verdade.
                ― O pai dela não gosta de mim, a mãe eu não sei mas parece que aceita e o irmão é meu amigo, o Giovanni.
                ― Aquela Anelyse? – lembrou Dirceu. Ele esfregou os olhos – Te apoio filho, mas porque precisava nos contar?
                ― O pai dela é agressivo e a machucou duas vezes desde que começamos a namorar, hoje ele saiu de casa, mas não sei como foi a situação apenas que saiu. Tenho receio dele voltar e acontecer algo pior.
                ― Denuncia ele para a policia. – deduziu a mãe.
                ― Não posso, prometi para ela que não faria nada... não contra o pai dela.
                ― Quer fazer contra quem? – interrompeu Dirceu, ficando preocupado com o rumo da conversa.
                ― Não contra, a favor... vou pedi-la em casamento.
                ― Você está louco? – espantou-se Dirceu, desta vez totalmente desperto – Se ela aceitar, os pais terão de emancipá-la. Você não tem nem onde morar com essa criança!
                ― Pai, por favor, não a chame assim... Ela é mais adulta que muita senhora que eu conheço. – puxou o ar antes de continuar – Pensei em morarmos aqui inicialmente. Eu só quero tirá-la daquela casa... ao que vejo ele não ataca nem a mãe dela e nem o irmão, então o problema é só com ela.
                ― Se você quer se casar com ela apenas por isso, é melhor só convidá-la a morar aqui por um tempo, sem a papelada de casamento. – comentou Esmeralda – Porque casamento é algo sério meu filho e tem de ser para a vida toda.
                ― Eu a amo mãe, fico louco quando a deixo em casa, pois não sei como ela estará no dia seguinte... e se ele volta e a mata? – estremeceu ao pensar nisso – Eu a amo...
                Dirceu e Esmeralda se olharam e já souberam qual era a opinião um do outro, foi Dirceu quem tomou a palavra.
                ― Tem nosso apoio, mas não faça nada precipitado. É pouco tempo para você ter tanta convicção que a ama e que quer se casar. Tente esperar até ela completar dezoito e peça, mas se não puder ou não quiser, ela será bem vinda aqui.
                ― Bebê. – Esmeralda falou baixinho, pegando a mão direita de Lucca por cima das pernas do marido – Pode ser que os pais dela sejam um empecilho, ela é menor... se eles disserem não, será não. Aceite.
                ― Prometo que não vou forçar nada e foi uma idéia... vou amadurecer isto e pensar com calma. Obrigado por confiarem em mim. Boa noite pai, mãe...
                Depois de beijar ambos no rosto foi triunfante para o quarto. Olhou em volta já planejando quais melhorias fazer no ambiente para receber sua futura esposa.
                ― O que está acontecendo com você, Lucca? – perguntou a si mesmo em voz alta – Quer se casar! – riu – Eu só posso estar enlouquecendo...
                Adormeceu planejando como faria o pedido e como convenceria a mãe de Anelyse a emancipar a filha para o casamento. Era cedo, ele tinha ciência disso, mas quanto mais cedo, menos risco ela corre de Luiz retornar aquela casa. Tinha a impressão que aconteceria a qualquer momento e que o telefone tocaria com más notícias. 



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